terça-feira, janeiro 17, 2017

Pavões, Iridescência, Radiações e coisas que tais

       Eu bem queria deixar de escrever sobre o nosso hospital, mas não é possível. Não só a ULS da Guarda é a maior empresa do distrito, como é também aquela que dá mais broncas. Faz-me lembrar aquela cena da pastilha elástica que nunca descola e que vai passando, de sacudidela em sacudidela, entre os passageiros de um determinado avião.

Desta vez foi uma fuga de radiação. A coisa passou-se assim. Em tempos que já lá vão, deu-se uma daquelas inaugurações que os políticos adoram fazer: um equipamento de TAC novinho em folha! De lá para cá, uma empresa qualquer fiscalizava aquilo tudo. E tudo esteve bem até alguém pegar numa simples moeda e provar que afinal havia níveis anormais de radiação e que a empresa não percebia nada daquilo.

Desde então foi só drama e taralhoquice. Carlos Rodrigues, o presidente daquilo tudo, que percebe tanto do assunto como eu de pentear macacos, veio para as televisões dizer, entre outras banalidades, que a coisa não era grave. Mas era. Tanto mais que até fecharam a TAC e o diretor-geral da Saúde veio, também para as televisões, puxar as orelhas até aos calcanhares a não se sabe bem quem. E não foi só por haver radiação onde não devia, foi também por o equipamento estar a funcionar, pasme-se, sem licenciamento!

O Estado persegue implacavelmente qualquer cidadão que faça alguma coisa sem permissão para tal. Até a tasca mais rasca deste país precisa de uma licença para funcionar. Um dia destes, até para se fazerem meninos será necessária uma autorização prévia. Mas a ULS, governada há anos por incompetentes e irresponsáveis de uma dimensão descomunal, não, não precisa. A ULS, de facto, pretende ser um mundo à parte.

À hora a que escrevo esta crónica desconheço se a TAC já voltou a funcionar. Mas se isso já tiver acontecido, podem ter a certeza de que estará a funcionar sem o licenciamento previsto na lei. Aos senhores que governam aquela casa e alguns interesses mais, tal deve parecer uma coisa normal. Como lhes parece tudo aquilo que fazem. Deve ser por isso que não se demitem, mesmo sabendo-se que três deles transitaram da administração anterior, a tal que colocou a TAC a funcionar com radiação pelo meio.

A ULS deveria ser um marco no combate ao despovoamento e definhamento da nossa terra. Assim a modos que uma espécie de farol que trouxesse esperança e orgulho. Para isso seria necessária imaginação, criatividade, ousadia e profissionalismo. Fazer-se por cá um pouco daquilo que os da Covilhã tão bem têm sabido fazer, com razão ou sem ela, para se promoverem. Mas não. É bronca atrás de bronca, quando não é coisa pior. Ele é concursos com fama de feitos à medida para os amigos do Álvaro Amaro, serviços à beira da rutura, broncas com relatórios do Tribunal de Contas, raides à urgência à caça de médicos, Chernobys em ponto pequeno, valores indescritíveis em horas extraordinárias. Eu sei lá, aquilo transformou-se num desastre pior do que o pesadelo!

Foi Álvaro Amaro quem trouxe para cá aquela administração. Foi ele quem a pressionou a não colocar o seu lugar à disposição – como aconteceu, por exemplo, na Covilhã – assim que mudou o governo. Tudo para poder continuar a dar aos seus boys aquilo que eles querem. É ele o responsável moral do que se passa. É por isso para ele que todos olham sempre que alguém mete água na ULS.

Álvaro Amaro tem quase sempre tido sorte. É fácil iludir as pessoas com rotundas, festarolas e outras distrações do género, enquanto a cidade se afunda para o futuro. Até o S. Pedro tem ajudado à festa, com miraculosas metereologias acertadas a dedo. Mas na ULS da Guarda, tachos à parte, a vida tem-lhe corrido mal. Transformou-se simbolicamente na sua derradeira batalha, naquela que lhe pode fazer perder a guerra.

Não sei se Álvaro Amaro conhece a relação entre os pavões, a radiação luminosa e o brilho das suas penas. Ao fenómeno chama-se iridescência e desaparece se colocarmos as penas debaixo de água. É caso para se dizer que com pavões destes, Álvaro Amaro terá mas é galinhas. De pescoço rapado. E demolhadas, entenda-se. Ou afogadas…
 
(Crónica Jornal O Interior - 11 de Janeiro de 2016)