Desta vez foi uma fuga de radiação. A coisa
passou-se assim. Em tempos que já lá vão, deu-se uma daquelas inaugurações que
os políticos adoram fazer: um equipamento de TAC novinho em folha! De lá para
cá, uma empresa qualquer fiscalizava aquilo tudo. E tudo esteve bem até alguém
pegar numa simples moeda e provar que afinal havia níveis anormais de radiação
e que a empresa não percebia nada daquilo.
Desde então foi só drama e taralhoquice. Carlos
Rodrigues, o presidente daquilo tudo, que percebe tanto do assunto como eu de
pentear macacos, veio para as televisões dizer, entre outras banalidades, que a
coisa não era grave. Mas era. Tanto mais que até fecharam a TAC e o
diretor-geral da Saúde veio, também para as televisões, puxar as orelhas até
aos calcanhares a não se sabe bem quem. E não foi só por haver radiação onde
não devia, foi também por o equipamento estar a funcionar, pasme-se, sem
licenciamento!
O Estado persegue implacavelmente qualquer
cidadão que faça alguma coisa sem permissão para tal. Até a tasca mais rasca
deste país precisa de uma licença para funcionar. Um dia destes, até para se fazerem
meninos será necessária uma autorização prévia. Mas a ULS, governada há anos
por incompetentes e irresponsáveis de uma dimensão descomunal, não, não
precisa. A ULS, de facto, pretende ser um mundo à parte.
À hora a que escrevo esta crónica desconheço
se a TAC já voltou a funcionar. Mas se isso já tiver acontecido, podem ter a
certeza de que estará a funcionar sem o licenciamento previsto na lei. Aos
senhores que governam aquela casa e alguns interesses mais, tal deve parecer
uma coisa normal. Como lhes parece tudo aquilo que fazem. Deve ser por isso que
não se demitem, mesmo sabendo-se que três deles transitaram da administração
anterior, a tal que colocou a TAC a funcionar com radiação pelo meio.
A ULS deveria ser um marco no combate ao
despovoamento e definhamento da nossa terra. Assim a modos que uma espécie de
farol que trouxesse esperança e orgulho. Para isso seria necessária imaginação,
criatividade, ousadia e profissionalismo. Fazer-se por cá um pouco daquilo que
os da Covilhã tão bem têm sabido fazer, com razão ou sem ela, para se promoverem.
Mas não. É bronca atrás de bronca, quando não é coisa pior. Ele é concursos com
fama de feitos à medida para os amigos do Álvaro Amaro, serviços à beira da
rutura, broncas com relatórios do Tribunal de Contas, raides à urgência à caça
de médicos, Chernobys em ponto pequeno, valores indescritíveis em horas
extraordinárias. Eu sei lá, aquilo transformou-se num desastre pior do que o
pesadelo!
Foi Álvaro Amaro quem trouxe para cá aquela
administração. Foi ele quem a pressionou a não colocar o seu lugar à disposição
– como aconteceu, por exemplo, na Covilhã – assim que mudou o governo. Tudo
para poder continuar a dar aos seus boys aquilo que eles querem. É ele o
responsável moral do que se passa. É por isso para ele que todos olham sempre
que alguém mete água na ULS.
Álvaro Amaro tem quase sempre tido sorte. É
fácil iludir as pessoas com rotundas, festarolas e outras distrações do género,
enquanto a cidade se afunda para o futuro. Até o S. Pedro tem ajudado à festa,
com miraculosas metereologias acertadas a dedo. Mas na ULS da Guarda, tachos à
parte, a vida tem-lhe corrido mal. Transformou-se simbolicamente na sua derradeira
batalha, naquela que lhe pode fazer perder a guerra.
Não sei se Álvaro Amaro conhece a relação entre
os pavões, a radiação luminosa e o brilho das suas penas. Ao fenómeno chama-se
iridescência e desaparece se colocarmos as penas debaixo de água. É caso para
se dizer que com pavões destes, Álvaro Amaro terá mas é galinhas. De pescoço
rapado. E demolhadas, entenda-se. Ou afogadas…
(Crónica Jornal O Interior - 11 de Janeiro de 2016)