No seu livro «Da
Corrupção à Crise», Paulo de Morais, ex-militante do PSD, vem confirmar o que
todos já suspeitávamos. Contraria duas mentiras colossais que tentaram “vender”
aos portugueses: a de que andámos a gastar demais e a de que não há alternativa
à austeridade.
A principal causa da
crise em Portugal, já muitos o tinham dito, e agora Paulo de Morais confirma, é
afinal a corrupção. Segundo ele, alguns grupos económicos, escorados em grandes
sociedades de advogados, dominam completamente a actividade política que se
transformou, ela própria, numa grande central de negócios. Os mecanismos de
corrupção agravam-se, cresce a promiscuidade entre os vários poderes e os negócios,
o desemprego aumenta, a classe média desaparece, e o país empobrece. Se não
acreditam, atentem no que se segue. Tendo em conta que, às vezes, o que parece
é.
Rui Machete, atual
ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, foi acusado, quando era presidente da
Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento, de ser um esbanjador e de se
comportar como um “novo-rico”, protagonizando gastos supérfluos e pessoais à
custa de dinheiros que não lhe pertenciam. Numa outra história, vem credenciado
com ligações à SLN, dona do BPN, com lucros privados de 150% na venda de
ações, num negócio com timings e
contornos em tudo idênticos à operação de compra e venda de ações que já se
sabia ter sido efetuada pelo próprio presidente da República, com um ganho
fabuloso para a família Cavaco. Tudo muito higiénico.
Paulo Portas, o tal da demissão irrevogável,
não descola do caso dos submarinos e da corrupção a eles associada. Só sabemos
que na Alemanha já ocorreram condenações aos comprovados corruptores, mas que
em Portugal, pelos vistos, não há corruptos…
Maria Luís Albuquerque,
já enterrada até ao pescoço no escândalo dos swaps, indigitou, sabe-se agora, para secretário de Estado, alguém suspeito
de tentar vender ao governo anterior uma escandalosa manobra de engenharia
financeira, destinada a mascarar parte da nossa dívida pública. Por sinal o
mesmo homem indigitado pelo governo anterior para renegociar a PPP
Douro-Litoral, que nunca chegou a funcionar!
E, “the last, but not the least”, o próprio
Passos Coelho (juntamente com Miguel Relvas) está sob suspeita de fraude
relativamente a uma sua empresa - a Tecnoforma – suspeita de uma alegada e
indevida aplicação de fundos europeus.
Haja pachorra!
Voltando ao livro de
Paulo de Morais lê-se a páginas tantas: «os sistemas autárquicos locais estão
tomados pelos negócios, em particular os do urbanismo, e afastam todos os que
possam pôr em causa a ordem desde há muito estabelecida: conluio, conúbio entre
empreiteiros, chefes partidários e autarcas. (…) Este «negócio» do urbanismo
gera assim margens de lucro de dois a três mil por cento, só comparáveis em Portugal
às do tráfico de droga (…)».
Vem tudo a propósito de
certas campanhas eleitorais, para as autárquicas, ditas de «independentes»!
Independentes
relativamente a quê e a quem?
Se até algumas,
«apoiadas» pelas forças partidárias, têm os «amigos» do costume, prontos a
darem o tal «contributo».
Que dizer das
candidaturas «independentes»?
Este assunto ficará
para outras escritas….
Uma coisa é certa, como
dizia Shakespeare, infeliz o país onde os idiotas conduzem os cegos…
(artigo publicado no jornal O Interior, dia 9 de agosto de 2013)