Até quando?
As recentes e repugnantes declarações
do inexpressivo gestor Zorrinho e do inefável filósofo Assis, sobre a compra
dos novos carros para o grupo parlamentar do PS, deixaram-me atónito, revoltado
e enojadíssimo.
As explicações bolçadas pelo ilustre
professor de gestão, fazem-nos temer que alguma vez tenha de gerir alguma
coisa. Que gere bem a sua vida, não ponho em dúvida, mas tratando-se do
dinheiro alheio, julgo que ninguém lhe confiaria a gestão duma mercearia…
Quanto ao Dr. Francisco de Assis,
tal como seu longínquo homónimo, acolheu-se numa ordem igualmente mendicante, sem
contudo fazer voto de pobreza, dedicando-se à pregação, à evangelização, diz
ele que ao serviço dos pobres e desfavorecidos. Mas, ao que parece, fartou-se da
roupeta e alpergatas, aprecia carros de luxo e exige que sejam os pobres a
servi-lo. E tem toda a razão! Não tem, o refinado mendicante, qualquer
responsabilidade no descalabro a que nos vem conduzindo a classe política…
Há muito que se sabia que esta
gente, sem princípios e sem valores, está unicamente apostada em sacar ao
Estado e a todos nós, tudo o que é possível sacar para manter as escandalosas
regalias que se atribuem, exibidas de forma vergonhosa e ostensiva - como
convém à mentalidade do novo-rico - numa altura em que se exige ao país
contenção e sacrifícios.
Sendo, todos nós, “accionistas”
obrigatórios de todos os partidos políticos, pelos exorbitantes subsídios que o
Estado lhes atribui com os nossos impostos, qualquer cidadão deveria ter o
direito de conhecer em pormenor as suas actividades, as suas contas, assistir e
participar nas suas reuniões e, claro está, participar nas votações para
eleição dos seus órgãos dirigentes, nas escolhas da sua lista de deputados, etc.
Se quem paga mandasse alguma
coisa, teria de ser assim!
Como isso não é possível, nem
sequer desejável, não deveríamos ser obrigados a subsidiar os partidos
políticos, hoje transformados em grupelhos inúteis, incompetentes e
gananciosos, responsáveis pela ruína do país e pelo descrédito total da
política, dos políticos e deste regime dito democrático. Que o façam os seus dirigentes,
militantes e deputados!
Acusam-se mutuamente de
insensibilidade social, mas não ouvimos, nem mesmo os que se apregoam
defensores dos interesses da povo e dos trabalhadores, propor reduzir o número
de deputados e escandalizam-se se lhes propõe acabar com as suas regalias.
Justificam-se com a Constituição, com as suas superlativas necessidades (!!!),
com o seu enorme prestígio (???), com o populismo, etc. Uma enorme desfaçatez e
uma completa ausência de escrúpulos.
Se a Constituição não permite a
redução para metade do número de deputados, então mantenha-se o número,
reduzam-se os ordenados em 50% e acabem-se com todas as regalias que deveriam
ser iguais às de qualquer outro trabalhador. Seria o mínimo que se poderia
exigir para que num regime dito democrático houvesse, pelo menos, alguma
equidade. Pouparíamos aqui mais de 100 milhões de euros por ano! Sem contar com
os Parlamentos Regionais…
Não sendo exigido aos políticos
e deputados qualquer tipo de preparação para o exercício dos cargos que ocupam,
não se pode acusar de populismo quem os critica pelas excessivas regalias que
usufruem, ao exercerem, de forma voluntária, interesseira e incompetente, as
funções que lhes são exigidas.
Nem sequer existe a preocupação
de escolher, entre os militantes partidários, os mais capazes, os mais
competentes e os com melhor curriculum.
Importa só que saibam falar,
para melhor enganarem, que usem gravata, para fingirem que são senhores e que sejam
arrogantes, para simularem que têm alguns conhecimentos. O que se tornou
verdadeiramente importante é a empatia com o chefe, o sectarismo exacerbado e o
servilismo repulsivo. E, claro, uma enorme e insaciável ganância…
Haverá quem entenda qual a
diferença entre o presidente, o vice-presidente ou o deputado, dum qualquer grupo
parlamentar, de um juiz, de um advogado, de um médico, de um economista ou de
outro qualquer funcionário público que se deslocam para os seus empregos
(públicos!) nos seus carros, com a gasolina e seguros pagos do seu bolso?
A diferença é contudo abissal.
Uns não precisaram de estudar, de trabalhar ou sequer de ter profissão. Dizem-se
eleitos e representantes do povo, mais uma das muitas falsidades do regime,
dado que só se elegem partidos e não pessoas. Mas isso abre-lhes as portas a
todas as regalias. Ordenados chorudos, subvenções vitalícias, subsídios de
reintegração, de deslocação, de residência, despesas de representação, viagens,
refeições, carros, etc.
Aos outros que investiram muito
dinheiro e anos da sua vida, estudando e preparando-se para o exercício das
suas profissões, obtidas na maioria dos casos por concurso público,
reserva-se-lhes um futuro sombrio quando não a emigração para um país decente, não
destruído pelos abusos, corrupção e incompetência.
Faz-nos muito mais falta ter uma
Justiça a funcionar e Hospitais bem apetrechados do que alimentar uns centos de
rapazolas impertinentes, inúteis e improdutivos que não se preocupam com o país
mas sim com os seus partidos, com as suas regalias e com os seus negócios.
Pode pôr-se em risco a
sobrevivência do país, despedir funcionários, reduzir salários e pensões a toda
a gente. É constitucional. O que não se pode é tocar nos privilégios dessa turbamulta
sem princípios, voraz e motorizada! Porque a Constituição não permite!
“É dinheiro dos contribuintes? Claro que é. Mas quem quer uma
democracia sem custos, o que verdadeiramente deseja é uma não democracia”,
afirma o gestor Zorrinho do alto da sua cátedra.
Por uma vez concordo com S.Exª. Acredito mesmo
que a maioria da população deste país não quer esta “democracia”, nem estes
“democratas”, que deveriam deslocar-se, se possível para muito longe, pelos
seus próprios meios - a pé, de bicicleta ou de patins – e ser responsabilizados
por todas as falcatruas, má gestão e abusos a que nos submetem.
O que precisamos,
verdadeiramente, é de gente sensata, honesta e responsável que defenda e
proteja os interesses do país e da população, sem arrogância ou egoísmo.
Se tivéssemos adivinhado o que
nos custaria esta espécie de “democracia” e de que raça eram esta espécie de “democratas”…
PS - “Os porcos, entretanto, pareciam bastante bem, pelo menos ganhavam
sempre alguns quilinhos”. George Orwell, “O Triunfo dos porcos”
Carlos Falcão Afonso
Correio dos Açores
21-10-2012