Li este texto e com a devida vénia aqui fica transcrito.
Acho-o uma preciosidade. É o bem dizer de um povo!!
Assim, se vai escrevendo aí pelas tabernas, mercearias e outros locais, onde o «fiado» era permitido....
Hoje, com os supermercados acabou-se esta «benesse» de outros tempos.
Os novos merceeiros já não permitem esta coisa, tão portuguesa do fiar.
O livro dos fiados lá estava, bem guardado, numa gaveta, da banca da balança.
Era curioso que, em todas as mercearias, a «gaveta do livro» ficava sempre na banca da balança.
Apesar da existência do livro dos fiados, existia sempre em local, esse sim bem visível, um quadro de louça, que avisava que fiado a casa não fazia.
Noutros casos, lá estava o Zé Povinho, a figura ímpar do Bordallo Pinheiro, a fazer o manguito e com a inscrição de: «QUERES FIADO, TOMA».
Só que o português fiou sempre.
Desde os tempos das descobertas, com os navegadores a pagarem as contas nas tabernas, quando regressavam das expedições....até aos tempos difíceis da República, aos da pobreza imposta pela ditadura e, agora aos da troika, com [c]oelho e [p]ortas!!!
Quem está acostumado com o mundo boémio, andando de bar em bar, sabe que
para pedir fiado é preciso ter uma grande dose de cara-de-pau. E, em especial, quando o fiado era para os copos de vinho ou para o tabaco. Hoje já não se fia o tabaco, vende-se à unidade!!!
Mas
negar, então, é uma arte.
Em cada taberna ou «venda» de pé-sujo há pelo menos uma frase a dizer que vender para quem não paga é proibido.
Interessante é ver a criatividade do povo quando o assunto é o mais
sério da «venda»: dinheiro.
Eis alguns dos comentários, sempre jocosos, brejeiros e populares para dissuadir os que ousavam usar o «fiado».
Mas, ele, «o fiado», existia para consolo e salvação de tantas e tantas aflições de um mês que parecia não ter fim.
Uma «santa Bárbara» para a trovoada do pão que faltava....
"Fiado é igual à barba, se não cortar, cresce"
"Fiado só para maiores de 90 anos acompanhados dos pais"
"Fiado? Só em dia de feriado, que a venda está fechada"
"Para não haver transtorno, aqui neste estabelecimento, só vendo fiado a corno, filho da puta e ladrão"
"Promoção! Peça fiado e ganha um não!”
"Fiado? Só na casa da sogra!”
"O tio que vendia fiado fugiu"
“Mulher bonita não paga, mas também não leva”
"Em terra de pobre, quem fez fiado é rei".
"Fiado só a partir de 2099"
"Leve fiado e ganhe de brinde a minha sogra"
"A polícia procura suspeito por ter pedido fiado, então não seja o próximo!"
"Freguês educado não cospe no chão, não pede fiado e não diz palavrão."
“O fiado é muito procurado, mas aqui não será encontrado”
"Fiado só se faz a um bom amigo, e o bom amigo nunca pede fiado"
"Eu tenho vergonha de lhe dizer não, por isso não peça fiado"
"Não passe sem parar,
não pare sem entrar
não entre sem comprar
não compre sem pagar.
Para servi-lo aqui estou,
trabalho e não sou folgado
de amigo, parente e doutor
foi cortado o nosso fiado"
"O fiado me dá pena
e a pena dá-me cuidado
vejo-me livre da pena
não lhe vendendo fiado"
"Caldo de galinha é canja,
conversa não é valentia
tudo com dinheiro se arranja
nesta casa não se fia”
"Se vem por bem, entre
esta casa é sua,
mas se me pedir fiado
não entre, fique na rua"
“Deus inventou o homem,
a mulher inventou o pecado
Deus inventou o dinheiro
o Diabo inventou o fiado!”
Frases e versos de domínio popular que pesquisei na internet. A maioria encontrei aqui e aqui.