Na última semana falámos dos factores externos a Portugal que, no nosso entender, podem determinar muito das nossas vidas neste ano de 2025. Hoje, como prometido, falaremos do que internamente vai a acontecer e não no que as ilusões podem fazer crer. A história repete-se: a mudança do calendário para um novo ano traz atualizações nos preços. Numa era marcada por uma crise inflacionária, e de múltiplos outros problemas sociais, e de um cenário geopolítico adverso, vários produtos e serviços irão sofrer mudanças acentuadas. O povo, essa mítica catalogação que significa apenas e tão-só a classe mais desprotegida e sem poder reivindicativo, vai sofrer a bem sofrer. Vegetar vai ser a palavra de ordem. Comecemos pela falácia dos rendimentos. O governo da República, e note-se que falo da República, determinou que o salário mínimo nacional vai aumentar de 820 para 870 euros, representando um acréscimo de 50 euros mensais. Ou seja, um aumento diário de pouco mais de um euro. O que fazer com um euro? Já o Governo pela voz do ministro António Leitão veio dizer que, em 2025, os trabalhadores que recebem o salário mínimo terão um acréscimo de 210 euros anuais. Fazendo as contas às migalhas anunciadas chega-se à conclusão, basta saber fazer contas da aritmética elementar, que nos 14 meses, incluindo os dois subsídios, o ganho mensal será de 15 euros e distribuindo pelos 30 dias o ganho por cada trabalhador que aufere o salário mínimo será de 50 cêntimos. A esmola anunciada! Já o governo regional da Madeira deliberou que por lá o salário mínimo regional em 2025 será de 915 euros, mais 65 euros do que o valor atualmente em vigor. E nos Açores o salário mínimo subirá até para além dos 913 euros mensais. Mais uma vez na Madeira e nos Açores os valores em remunerações, quer no caso vertente do salário mínimo como no descongelamento das carreiras dos docentes, por exemplo, é e foi diferente do Continente. Isto é constitucional? No mesmo país haver valores e decisões diferentes sobre rendimentos? Na Função Pública aumentos é coisa de futuro. Ou seja, o governo compromete-se a implementar uma série de medidas para a valorização da base remuneratória e a revisão das carreiras dos trabalhadores do sector público. Mais e mais do mesmo, promessas à senhora do Coito! E o chorrilho de promessas é cada vez mais uma ilusão. Todos os anos, o mesmo e no fim perda do poder de compra! Já se conhece a cantiga de cor e salteado, mas ainda há quem se deixe embalar pelo canto das sereias. Coitados! Uns tristes e pobres tigres de papel que querem enganar incautos. Acordai. E as ilusões são sempre as mesmas. Valorização da Tabela Remuneratória Única, que prevê aumentos anuais nos próximos quatro anos, com um mínimo de 234 euros durante a legislatura. A valorização será alinhada com aumentos de 56 euros em 2025 e 2026, e 60 euros em 2027 e 2028. E pelo andar da inflação qual o real ganho dos trabalhadores? Nenhum. Perda do poder de compra! O Governo compromete-se a rever o regime de ajudas de custo e transporte, com um aumento de 5% a partir de janeiro de 2025, e a iniciar o processo de reavaliação, reestruturação e valorização das carreiras gerais a partir de 2027. Haverá a intenção do governo em aplicar um acelerador de carreiras e a recuperação do tempo de serviço, com a avaliação do impacto dos Decretos-leis que regulam o modelo de recuperação e aceleração das carreiras. Tudo só ilusões. E o que mais me espanta, ou talvez não, é a candura, ligeireza e simplicidade com que se acredita, mais uma vez nestas figuras de retórica, após tantos e tantos anos a ouvir a mesma lengalenga. E as avaliações do desempenho? Com objectivos mal definidos e com as sempre cotas a determinar que os submissos, os acríticos, os lambe botas e os que escondem e escondem-se das responsabilidades a serem beneficiados pelos chefes, todos eles. Depois temos de falar nos pensionistas. O engodo é o mesmo. Falam de melhoria das pensões quando aquilo que se vai a verificar são migalhas que caem da mesa do faustoso banquete dos párias. Dizem que a maioria das pensões deverá ter um aumento de cerca de 3,9% em 2025. A maioria dos pensionistas que vegeta diariamente e se arrasta pela vida miserável. Quem pode sobreviver com reformas que estão muito abaixo do limiar da pobreza ou muito próximo? Lembrar que em 2022 segundo dados do Instituto Nacional de Estatística o número de pensionistas a receberem abaixo do limiar da pobreza passou os 71% do número total dos pensionistas. E não é com o aumento de 50 € no valor de referência do Complemento Solidário de Idoso, que fará aumentar os beneficiários do complemento em apenas 24 000 segundo o governo da AD, a que se adicionam aos 150 800 que recebiam o complemento em março de 2024, segundo estatísticas divulgadas pela Segurança Social, que se reduzirá o número de pensionistas que vivem na pobreza extrema. Um nojo! E se nos lembrarmo-nos que entre 2011 e 2023, a Segurança Social acumulou 25 227 milhões € de saldos positivos, sendo 22 440 milhões € durante os governos de Costa. É evidente que se podia ter feito muito mais para combater a pobreza extrema em que vivem ainda a esmagadora maioria dos pensionistas no nosso país, infelizmente muito pouco foi feito. E com a percepção que nada continuará a ser feito. Percepção? Não, constatação. Podem continuar a falar nos aumentos dos apoios sociais, subsidio de desemprego, abono de família e outros subsídios que são só isso mesmo migalha. E por fim, mas não menos importante, na hora de acertar contas com o fisco, para quem não foge aos impostos haverá muitos mais cidadãos que em vez de receberem terão que pagar. A crónica já vai longa e como há muitos mais assuntos a falar continuaremos na próxima semana.
Até lá tenham uma excelente semana.