quinta-feira, agosto 15, 2024

Já não há pastores na Serra da Estrela

A região de Gouveia era em tempos idos terra de pastores. Eram às centenas. A transumância no verão para a Serra da Estrela e no inverno até terras do Douro para fugir ao frio e à neve da serra.
A festa do Senhor do Calvário, em Gouveia, era o encontro de pastores e da venda das ovelhas.
Hoje há apenas um único pastor a fazer a transumância.
Quem viveu aqueles tempos sabe das dificuldades da vida de pastor. Isolados, apenas com a companhia das ovelhas e dos cães.
Vida difícil!
As pastagens na serra quase desapareceram. Antigamente ranchos de mulheres e homens, logo bem cedo, subiam à serra para, nos baldios, semearem o centeio que depois da ceifa era pasto para alimentar o gado. Hoje em vez de pasto há giestas e mais giestas, agora pasto para incêndios.
Ainda ecoam nos meus ouvidos os cantares daqueles ranchos que, por entre trancos e barrancos, desciam à aldeia vindos da labuta da ceifa. Dura e amarga vida.
Já quase não há pastores na Serra da Estrela!
Associado à pastorícia, a lã das ovelhas alimentava muita fábrica da região. Outro trabalho árduo! Desde a lavagem da lã até à sua venda aos industriais de lanifícios. Depois era o trabalho duro dos operários para produzirem o produto final.
O ciclo da lã era cheio de muitos e variados perigos. Uma história de vida feita de sangue, suor e lágrimas.
Poucos aguentaram tais duras tarefas. A emigração era a fuga. E a guerra colonial roubava os mais fortes da ajuda aos mais velhos nas duras lidas.
Se houver interesse leiam "Crónicas da Serra" de Irene Lisboa e perceba-se a dureza amarga da vida naquelas paragens da Serra da Estrela.