O recente anúncio de que a agência Moody's subiu o rating em dois níveis e coloca Portugal em notação de risco de "A3" deixou o Governo demitido, mas ainda em funções, e em especial o ministro Medina em completa euforia.
Mas convém desde já esclarecer os menos habituados a estes anúncios o que significa em concreto tal avaliação.
Todos se devem lembrar que antes e durante a intervenção da célebre “troika”, em Portugal, fomos atirados para o nível lixo pelas mesmíssimas agências.
As agências de rating, como vulgarmente são chamadas as agências de notação financeira, são empresas que avaliam o risco de crédito de um país, empresa, ou até de um produto financeiro. A essa avaliação de risco de crédito, dá-se o nome de notação. No caso da notação de rating de um país, uma descida pode conduzir à perda de confiança dos investidores na dívida soberana, levando a que sejam pagos juros mais altos nas emissões de dívida subsequentes. O que significa que o Estado terá mais custos para se financiar.
Dito de outra forma, as agências de rating avaliam a capacidade das entidades que emitem dívida (empresas ou países) em pagar o valor que lhes foi emprestado, acrescido de juros mais elevados. Ao atribuírem determinada notação, estão a informar o investidor daquele risco de investimento. Isto é, informam-no, na prática, da probabilidade de poder recuperar o seu dinheiro. Ter sempre em atenção que estas avaliações têm em muitos casos origem em potenciais conflitos de interesse.
Por um lado, as empresas de rating, são empresas privadas, cujos acionistas são normalmente grupos de investimento.
Por outro lado, as avaliações podem ser feitas a partir de pedido das próprias entidades.
Ou seja, são as empresas e os países que muitas vezes solicitam as classificações de risco para aceder aos mercados financeiros. Há ainda a considerar que as empresas de rating são reguladas pelos supervisores financeiros do país onde se localizam. Notações de rating inflacionadas ou atribuídas sem um real conhecimento do risco associado a determinados produtos e títulos, estão entre as principais críticas apontadas às agências de rating e ao papel que tiveram na crise financeira.
Exemplo disso foi a atribuição da elevada notação ao banco de investimento americano Lehman Brothers em 2008, o ano em que faliu. Poucos dias antes do colapso, a Standard & Poor's e a Moody’s ainda o colocavam num grau de investimento elevado.
As agências de rating também não previram a falência dos bancos islandeses, com classificação A3, a máxima que ocorreu nesse mesmo ano, curiosamente a mesma agora atribuída a Portugal.
Mas por vezes não são apenas as ditas agências a fazerem avaliações pouco credíveis
Quem já esqueceu o ex-Presidente da República, Cavaco Silva, que semanas antes do colapso do BES dizia aos portugueses que a instituição estava sólida?
Estas circunstâncias podem criar potenciais conflitos de interesse e favorecer um clima de polémica e crítica à volta das agências de rating e não só. É que tais notações interessam sobremaneira aos investidores com fins especulativos.
Enquanto isto, com as taxas de crescimento das economias periféricas a subirem acima da média da União Europeia e com as famosas agências de notação de risco a melhorar a classificação da dívida dos PIIGS, acrónimo pejorativo originalmente usado na imprensa anglo-saxónica, para designar o conjunto das economias de Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha, abrindo assim o caminho para os grandes investidores e a uma nova vaga especulativa que, num ciclo vicioso perfeito, voltará a beneficiar os mais ricos em detrimento dos mais pobres.
Portugal é um país onde as desigualdades estão a crescer de uma forma muito rápida, causando um aumento enorme da pobreza, o empobrecimento da classe média, e o enriquecimento crescente de uma minoria. Estas desigualdades são ainda agravadas pela degradação crescente do Serviço Nacional de Saúde, da Escola Pública, do aumento do desemprego, da falta de habitação, dos juros exorbitantes cobrados pela agiotagem, fazendo crescer os sem-abrigo com o aumento assinalável do assistencialismo, os enormes autoelogios à política das “contas certas”, o governo do PS/Costa deixa um país com uma economia frágil a caminho da recessão, com uma taxa de investimento, nomeadamente publico, muito baixa e inferior à média da União Europeia, com uma Administração Pública degradada e sem meios, e incapaz de responder aos desafios que o país enfrenta; um país de baixos salários muito inferiores à média dos países da União Europeia.
Os riscos de recessão, abrandamento económico, pressões inflacionistas deviam ser objecto de uma mais séria avaliação das subidas dos ratings.
Fica o aviso, cuidem-se e não acreditem em falácias e muito menos em contas certas e transparentes.
Tenham uma boa semana.
(Crónica Rádio F - 20 Novembro 2023)