Em 1619 o escritor português Francisco Rodrigues Lobo publicava a sua obra - A Corte na Aldeia.
Rodrigues Lobo, tenta, ficcionalmente, ligar a pequena nobreza da província ao antigo fausto da corte portuguesa.
Lembrar que a obra decorre no contexto histórico do domínio régio filipino em Portugal.
Esta corte de aldeia é uma corte de amigos, isto é, fundamentalmente, uma «conversação de amigos bem acostumados».
Alguns deles recordam a sua experiência de cortesãos na antiga corte portuguesa, isto é, quando eram troianos e faziam luzir o que agora está cheio de ferrugem; outros, os mais jovens, porque nasceram depois que faltou a Portugal a corte, vêem essa «antiga corte» através de recordações, mas, e será importante dizê-lo, nem os primeiros a retratam nem os outros a apresentam como um modelo nostalgicamente actualizável. É a falar que se transmitem embaixadas e recados, se fazem visitas, se contam experiências de viagens e casos singulares de novelas e contos a familiares e amigos, se dão respostas agudas.
Raramente se pede mais.
Mas como ocorre com as cartas, alguns recados, muitas anedotas, muitos ditos agudos, muitas boas respostas que, contributos para o sal da conversação – essa conversação dos amigos que não tinham de ter dentes.
A obra de Rodrigues Lobo, A Corte na Aldeia, veio à memória face aos recentes eventos que aconteceram na Guarda.
Depois de um ex presidente da Câmara Municipal, em reunião de executivo camarário ter reduzido a cinzas a argumentação vexatória que o actual presidente da câmara mima o seu ex companheiro de partido, o PSD, e, é bom lembrar, seu colega de executivo, esquecendo os termos pouco ou nada abonatórios para a credibilidade ética do actual presidente da câmara, assunto intestino que aos dois diz respeito, há no entanto na corte, algo preocupante que devia fazer pensar os cidadãos da Guarda, se por qualquer motivo se acharem com vontade de exercerem o seu dever crítico de cidadãos conscientes e actuantes.
É que para além das adjectivações que o ex presidente brindou o seu ex companheiro de partido e colega de executivo, e que reforça o provérbio popular de que «quem não se sente, não é filho de boa gente», há questões levantadas na argumentação que deveriam preocupar os guardenses.
Desde logo a dívida do ex SMAS às águas de Portugal.
Fazer desaparecer, entre comas, obviamente, milhão e meio de euros do cofre do ex SMAS, terem empurrado a dívida com a barriga e com juros a caírem em catadupa, só por si deveria preocupar os guardenses.
A pergunta é pertinente e não se encontra resposta.
Afinal, em quanto vai a dívida?
É que todos os cidadãos da Guarda já perceberam que vem aí uma subida exorbitante do preço desse bem essencial - a água.
Não se duvide.
Já quanto aos processos em Tribunal de Contas e outros actos de gestão ficamos bem informados sobre o que foi o governo da câmara.
Nada a acrescentar, os factos falam por si.
E para abrilhantar a lavandaria que vai havendo no executivo camarário eis que o mentor de tudo e causador primeiro das intrigas, azedumes, lavar de roupa bem suja, o sempre presente Álvaro Amaro, aparece aqui mesmo, na Guarda, a apresentar um livro, rodeado de figuras do seu PSD, à frente das quais o mandatário à sua primeira candidatura à Câmara da Guarda, a vedeta televisiva, Marques Mendes.
Mas também por lá se viram figuras e figurantes.
O título do livro “O Interior é Fonte de Vida”.
Terá alguma coisa a ver com as célebres alavancas de desenvolvimento propostas pelo executivo camarário?
Se não tem, imita muito bem.
O antigo edil guardense revelou que este é um livro que pretende ser um tributo à agricultura, ao desenvolvimento rural e ao interior a quem diz ter dedicado o seu empenho, saber e esforço dedicação ao serviço público e à política.
Então foi por isso que o abandonou e foi para o El Dorado de Bruxelas?
E a caça senhor deputado.
Já não fala dela assim como dos rituais que estavam ligados à entronização dos confrades do javali?
Cenas do mais profundo horror que fariam corar de vergonha qualquer «doutor» das célebres e de má memória praxes académicas.
Logo o senhor esqueceu-se da caça. Imperdoável.
Já agora, será que se lembrou do tráfico de seres humanos que aumenta na agricultura? Era de todo conveniente falar lá por Bruxelas, principalmente por quem diz nunca ter abandonado a causa que abraçou - o desenvolvimento rural e a agricultura. E para dar seguimento à Corte na Aldeia nada melhor que a inauguração do Centro para a Economia e Inovação Social, uma parceria entre Portugal e Espanha.
Nas palavras da ministra Mendes Godinho a Guarda está numa área na qual o centro de competências vem responder aos desafios e necessidades, nomeadamente na formação de trabalhadores, capacitação da gestão e inovação nos modelos de resposta aos desafios sociais.
A ministra Godinho estaria já a pensar na rota de escravos? Mas se a rota de escravos é preocupante, que dizer da nomeação de um destacado dirigente do partido socialista para ser chefe do dito centro?
Aliás, curiosidade ou simples coincidência a ministra Godinho, da Segurança Social, já arranjou tacho para dois elementos da Escola Profissional da Guarda.
Quem diria, há uns anos atrás, que a família que hoje governa os destinos da Escola Profissional e outros empreendimentos do social, na Guarda, estivesse tão ligada ao Partido Socialista?
Quem diria.
Tudo nos conformes com a política de ter os partidários à frente das instituições.
A corte na aldeia em época primaveril só mesmo numa bucólica e sonolenta Guarda.
Tenham uma boa semana.