terça-feira, agosto 30, 2022

MEUS SENHORES, AQUI ESTÃO OS GATOS!

” MEUS SENHORES, AQUI ESTÃO OS GATOS!
Deus fez o homem à sua imagem e semelhança, e fez o crítico à semelhança do gato. 
Ao crítico deu ele, como ao gato, a graça ondulosa e o assopro, o ronrom e a garra, a língua espinhosa e a calinerie.
Fê-lo nervoso e ágil, reflectido e preguiçoso; artista até ao requinte, sarcasta até à tortura, e para os amigos bom rapaz, desconfiado para os indiferentes, e terrível com agressores e adversários. 
Um pouco lambeiro talvez perante as coisas belas, e um quase nada céptico perante as coisas consagradas; achando a quase todos os deuses pés de barro, ventre de jibóia a quase todos os homens, e a quase todos os tribunais, portas travessas. Amigo de fazer jongleries com a primeira bola de papel que alguém lhe atire, ou seja um poema, ou seja um tratado, ou seja um código. [...]” - Os Gatos de Fialho de Almeida.