sexta-feira, abril 22, 2022

Ponto de vista

Depois de quatro meses a vivermos sob a forma de duodécimos eis que o Governo apresenta o Orçamento de Estado para oito meses. 
A montanha pariu um rato. E que rato. 
Por definição, e segundo os manuais de política, os credíveis, um Orçamento de Estado é uma lei da Assembleia da República, que comporta uma descrição detalhada de toda a previsão de receitas, uma autorização de despesas ou dotação de despesas, bem como uma autorização de endividamento, tudo para um horizonte temporal de um ano. 
Neste caso, não será para um ano por razões que se prendem com as eleições antecipadas, como se sabe. 
Na apresentação do Orçamento de Estado o ministro Medina veio dizer esta coisa estapafúrdia de que «não está escrito em nenhum manual de política que este orçamento é de austeridade declarada». Como se um manual, do quer que seja, até das mil e uma maneiras de enganar os povos, fizesse alguma referência explícita a um caso concreto. 
Não está escrito, nem nunca podia estar escrito, como é óbvio, mas também se percebe pela leitura atenta do documento que é mais um embuste, logo de uma enorme e austera hipocrisia. 
Um orçamento de parcimónia que é a mesma coisa que austeridade. A iliteracia dos portugueses ao nível da economia e finanças é de tal ordem que se vende gato por lebre. 
Os mentecaptos querem fazer dos portugueses mais uma vez uns imbecis. 
Num momento em que a inflação ameaça para valores há muito nunca vistos e quando o próprio Banco Europeu, com uma Christine Lagarde à cabeça, que se assemelha a uma barata tonta, eis que anuncia o fim da compra da dívida pública dos estados. É o fim da era em que se gastava à tripa forra. 
A inflação aumentou mas os mesmos de sempre, quer agiotagem quer empresas de distribuição e o próprio estado através do IVA e ISP viram as receitas a aumentar. 
Mas a mesma inflação que penaliza fortemente as classes com menos recursos serve para fazer crescer a pança dos mesmos de sempre. 
Eis que se anuncia que desde Janeiro até Março o aumento das receita com a inflação foi de quase 2 mil milhões de euros. 
Não se quer aumentar os salários porque segundo se diz provocaria um aumento da inflação. Em que manual de política está escrita tal asneira? 
Não querem aumentar os salários mas no entanto não se mexem nos lucros dos grandes grupos económicos. É a defesa da célebre frase do ministro da Economia que dizia que «tudo pode ser feito menos hostilizar as empresas.» 
Tudo, mas tudo que se diz e escreve é para fazer aumentar a fome e a miséria no país. 
E para aliviar tais situações aponta-se, mais uma vez o assistencialismo como panaceia para os graves problemas. Que forma mais abominável de assistencialismo pode ser caracterizada a prestação adicional de 60 euros para famílias que recebem prestações sociais mínimas, como o Rendimento Mínimo Garantido? E que só começará a ser paga em Maio. 
Até lá aguentem-se! 
«Não há pão! Comam brioches» já dizia a outra. 
E que dizer da esmola dos aumentos das reformas, para quem os teve, é claro. Para Costa ganhar mais de 1000 euros de reforma é ser-se rico. 
Para quando a fixação do valor máximo da reforma? 
Só para lembrar alguns casos pouco ou nada divulgados por uma imprensa que não é sujeito mas sujeitada. Mas que podem ser consultados na página da Caixa Geral de Aposentações. 
A ex ministra da Justiça vai auferir uma reforma de 6 750 euros por mês e um também ex ministro, este da educação, um tal Nuno Crato, com 4 472 por mês. Mas a lista ainda nos dá a conhecer mais reformas douradas. A procuradora Cândida Vilar que investigou a invasão da academia do Sporting, em Alcochete, vai auferir 5831 euros por mês, Luísa Madeira Mendes, consultora principal da Autoridade Nacional de Comunicações vai receber uma reforma de 7 233 euros por mês. 
Alguns exemplos, muitos outros há. 
Vergonhoso face à miséria que reina no país. 
Entretanto o tal assistencialismo é sustentado pela penalização da classe média, através do aumento dos impostos, mantendo os lucros das empresas. 
«Não se pode hostilizar as empresas»! 
Só um exemplo. O Orçamento de Estado prevê gastar mais de 300 milhões de euros em sete sociedades financeiras, quatro ligadas ao BANIF e três ao BPN. É muito mais do que o montante para aliviar o IRS das famílias, lembrem-se disso. 
Já o aqui temos vindo a salientar que não foi a guerra que determinou a inflação. Esse argumento é mais uma falácia. Ainda não havia guerra e já tínhamos a inflação. 
Onde está o apoio à habitação e ao emprego dos jovens? Vão continuar a ser eternamente jovens sem conseguirem constituir família. Isto são medidas de apoio à natalidade? São políticas para aumentar a população? Em que manual está escrito tamanha barbaridade? 
Os números não enganam. Prevê-se no Orçamento de Estado que vai haver 101 mil milhões de euros de receita e 105 mil milhões em despesa. 
Ora não é preciso ter-se lido um qualquer manual de política para se perceber que há aqui rato nas contas. Voltam as cativações, essa abusiva forma de mentir às populações mas que deu um protagonismo e ascensão ao vendedor da banha da cobra. 
E como é possível o Governo prever um menor crescimento económico do que aquele projetado em Março e ao mesmo tempo prever a descida do défice e da dívida pública? Medina diz que o Governo fez "um ajuste nas projeções macroeconómicas". Mas que ajustes? Não diz! 
O PIB ‘per capita’ português caiu em relação à média europeia nos governos de Costa e do Partido Socialista. Parabéns a Costa e ao Partido Socialista, já somos o sétimo país mais pobre da Europa. Mas há mais. Em vez de ser política do Governo educar a população para o civismo e cidadania procura-se na penalização das leis, através das multas, prever arrecadar 13 milhões de euros. Mas atenção que as multas só serão para os cidadãos anónimos pois os poderosos de todos os géneros e feitios estarão sempre a salvo de toda e qualquer multa. 
Reduzem-se as despesas correntes, o que é que isso significa? Menos investimento nos serviços públicos, ou seja a administração pública com menos recursos para a saúde, a educação, a justiça e todos os outros serviços
Por exemplo, na educação mais de 100 mil alunos estarão sem pelo menos um professor já no próximo ano, prevê a directora da Pordata. E na saúde? 
Um exemplo elucidativo mas muitos outros podiam ser dados. 
Em Fevereiro de 2019, havia 688 mil utentes sem médicos de família. 
Em Junho de 2021, eram 850 mil, em Julho de 2021, mais de um milhão e, neste momento, mais de 1 milhão e 200 mil cidadãos não têm médico de família. 
Tudo no governo de Costa e do Partido Socialista. 
Ou seja uma maior redução do investimento público. 
O apoio às famílias e às micro, pequenas e médias empresas é apenas de 0,6% do Produto Interno Bruto
O tão anunciado desdobramento dos escalões do IRS é uma falácia. Está escrito em todos os manuais de política.
Representa 150 milhões nos bolsos de alguns, poucos, portugueses. Quando a verba total a cobrar pelo Estado com o IRS atinge os 15 203 milhões de euros, o que corresponde a um aumento de 5% face à estimativa de execução para 2021. É o próprio governo que o diz e é fácil de explicar este brutal aumento. 
Ou seja, aquilo que o governo quer devolver aos portugueses representa tão só 1% da receita total do IRS. 
Mas ainda ao nível do IRS lembrar que como não houve actualizações das tabelas quem receber uma esmola de aumento, qualquer que seja, pode cair num escalão que o vai obrigar a pagar mais. Isto é uma medida de austeridade, está escrito em todos os manuais de política credíveis e não em sebentas vendidas numa qualquer tenda da feira das hipocrisias e vaidades. 
Um salário de 1 000 euros vale menos 40 euros por mês! E onde fica o tão prometido aumento do salário médio? Em lado nenhum. Reduzir a dívida pública para 1,9% do PIB e aumentar o crescimento em 4,9% e prever que a inflação seja de 4% são tudo tretas do costume. 
Vamos ser cada vez mais pobres. 
Uns mais que outros, é óbvio. 
E nós por cá? Mal. O distrito da Guarda não está contemplado com qualquer obra estrutural. Obrigado aos deputados representantes do distrito. A vossa função será, como já é habitual, fazer número.
Tenham uma boa semana.