Terminou
a chamada Cimeira Social Europeia que decorreu no Porto. Não, não
vos venho falar dos gastos exorbitantes que se verificaram com tal
espectáculo. Sim de espectáculo de propaganda à coesão da União
Europeia. Não há coesão nenhuma, primeiro ponto. Depois falar das
conclusões é dizer nada. Só 24 dos 27 chefes de Estado e de
Governo da União Europeia estiveram presentes. Faltou logo o mais
rico de todos os países, a Alemanha. A chanceler mandou dizer que
não vinha. Lá terá as suas razões. Todas mas menos a da pandemia
como foi anunciado. Daqui se conclui que o quer que viesse a parir a
cimeira pouco ou nenhum interesse terá para a Europa. Mas, mesmo
assim, insistiu-se em assinar um documento, de apenas uma página,
onde os 24 representantes presentes se comprometem a desenvolver
esforços para aplicar um Plano de Acção sobre o Pilar dos Direitos
Sociais. Esse pilar foi adoptado precisamente numa cimeira idêntica
à do Porto só que agora a Presidência Portuguesa voltou ao tema
procurando que todos os estados membros o apliquem em prol do que
chamam o bem-estar dos cidadãos europeus. Ora o governo português
não percebeu que as políticas sociais são por imposição do
Tratado da União Europeia da responsabilidade de cada estado membro.
Mas deixemos o que a cada Estado pertence e vamo-nos centrar num dos
objectivos traçados pelo tal Pilar dos Direitos Sociais,
precisamente o da Educação,
formação e aprendizagem ao longo da vida. Diz-se no preâmbulo e
passo a citar: «Todas
as pessoas têm direito a uma educação inclusiva e de qualidade, a
formação e aprendizagem ao longo da vida, a fim de manter e
adquirir
competências que lhes permitam participar plenamente na sociedade e
gerir com êxito as transições no mercado de trabalho.», fim de
citação. Ora a realidade contraria tudo quanto enche tratados e
planos com frases de salão e punhos de renda. Se os objectivos
sociais para que cada Estado atinja a tal meta do bem estar lhes
pertence por inteiro vejamos o que se passa em Portugal. Continuamos
a ser um país em que uma percentagem muito elevada da população
empregada tem um baixo nível de escolaridade. Este facto, por um
lado, associado ao baixo “stock” de capital ou seja investimento
por
trabalhador, que é metade
da dos países da União Europeia determina
baixa produtividade, o que constitui um obstáculo ao crescimento
económico e ao desenvolvimento de um país em que 2 milhões de
portugueses vivem no limiar da pobreza e, por outro lado, gera
grandes diferenças nas remunerações.
Em
2020, a população empregada em Portugal com o ensino básico ou
menos ainda representava 40% da população total empregada, enquanto
a média na União Europeia era apenas 16%, ou seja, 3 vezes menos.
Por outro lado, a redução da população empregada em Portugal com
baixa escolaridade tem sido feita principalmente por meio da expulsão
violenta destes trabalhadores do emprego nos períodos de crise.
Entre 2011 e 2014, com a crise financeira do “subprime”
e com a política de austeridade violenta da “troika” e do
governo PSD/CDS, foram destruídos 338 000 postos de trabalho, mas o
número de trabalhadores com o ensino básico ou menos que perderam o
emprego foram 614 000. Entre 2019 e 2020, foram destruídos 99 000
postos de trabalho, mas o número de trabalhadores com o ensino
básico ou menos que perderam o emprego atingiu 171 000. Eis a outra
face da crise escondida. Analisando os dados do próprio Eurostat
conclui-se que,
no período 2011/2019, as remunerações médias que aumentaram mais
foram as dos trabalhadores de baixa escolaridade (ensino
básico ou menos), que
tiveram uma subida de 12% , cerca de 69€, enquanto as remunerações
dos trabalhadores com maior escolaridade, ensino superior sofreram
uma redução de 7% , ou seja menos 85€ de rendimento. É por isso
que Portugal está-se a transformar num país de salários mínimos.
Não é possível assim reter os trabalhadores com qualificações
elevadas e desenvolver uma economia baseada em média-alta e alta
tecnologia e no conhecimento. Não é por acaso que os trabalhadores
mais qualificados têm
emigrado. Uma
segunda conclusão importante é
que, apesar de tudo, diferenças de escolaridade determinam
diferenças grandes nas remunerações recebidas pelos trabalhadores.
Em 2019, ainda segundo o Eurostat, um trabalhador com o ensino
secundário ganhava no nosso país em média mais 20% do que um
trabalhador com o ensino básico, e um trabalhador com o ensino
superior ganhava mais 71% que um trabalhador com o ensino básico. A
remuneração de um trabalhador com o ensino superior era, em média,
superior em 43% à do trabalhador com o ensino secundário. Mesmo com
as baixas remunerações pagas em Portugal, as diferenças de
remunerações determinadas pelos níveis de escolaridade são muito
grandes. Mas já que tanto se fala de Pilar dos Direitos Sociais
lembrar que em Portugal o desinvestimento na Educação vai-se
acentuando ano após ano. Segundo dados do Instituo Nacional de
Estatística, a despesa com Educação desceu, entre 2010 e 2020, de
17% para 13% o que correspondeu a uma redução de mais de 2 164
milhões de euros para a Educação em 2020. Como
consequência de baixa escolaridade, baixas remunerações e de baixo
stock de capital por trabalhador e, consequentemente, de uma economia
com um perfil produtivo de média-baixa e baixa tecnologia e
conhecimento, a riqueza criada anualmente por habitante em Portugal
continua a ser muito inferior à média dos países da União
Europeia como revelam os dados do Eurostat. Em média, a riqueza “per
capita” criada
anualmente no nosso país varia entre 62% e 67% da média da dos
países da União Europeia. Em 2020, o Produto Interno Bruto por
habitante médio na União Europeia foi de 29 660€ e, em Portugal,
apenas de 19 640€. Em 2020, com queda 6% do PIB a riqueza criada
por habitante foi muito menor, o que contribuiu para agravar as
condições vida. A tudo isto ainda se associa uma subutilização
maciça do trabalho que segundo o Instituto Nacional de Estatística
570
600 trabalhadores estão no desemprego e 140 700 têm emprego parcial
porque não conseguem encontrar trabalho a tempo completo.
Em vez de tanto folclore à volta de cimeiras expliquem aos
portugueses para onde caminhamos e como é o nosso catastrófico
final.
Dizer que seguimos nesta crónica dados oficiais do Instituto Nacional de Estatística, do Eurostat e de trabalhos do Economista Dr. Eugénio Rosa.
Tenham uma boa semana.
Dizer que seguimos nesta crónica dados oficiais do Instituto Nacional de Estatística, do Eurostat e de trabalhos do Economista Dr. Eugénio Rosa.
Tenham uma boa semana.
(Crónica Rádio F - 10 de Maio 2021)