Deixemos a crise e vamos aos amores ou, melhor dizendo, à sempre gostosa forma de, prosaicamente, cracterizar uma....paixão.
«Quando um homem ama uma mulher e não acha meio de corresponder-se com ela, o homem é uma .... ilha.
Se encontra um primo que o aproxima da ninfa, então forma uma península, e o tal primo, que é a porção de terra que o liga ao continente, é o istmo.
Se a menina tem uma amiga, que reconhecendo a nossa paixão, a incite a que nos corresponda, nos sorria e nos afague, e quem sabe nos abra a sua alcofa, essa amiga, mtendo-se pelo mar das nossas ilusões, é um cabo.
Se, em vez de uma amiga é uma tia, ou qualquer parente, pessoa elevada, então é um promontório.
Se alcançamos o conssentimento da mamã, que nos defende dos furacões do papá, tal mamã é um porto.
Se, porém, nos não defende, mas se mostra indiferente a que lhe cortejemos a filha, é simplesmente ....uma bacia.
Todas as paragens em que podemos falar à donzela, regra geral ao abrigo de todo o compromisso com os papás, chamam-se ancoradoiros ou enseadas.
Quando nos correspondemos por intervenção da criada, é esta um estreito que une os dois mares.
Se a criada não é muito escrupulosa, pode considerar-se um canal.
Se é difícil conquistá-la, tem de chamar-se um baixio.
Constituem a barra todos os obstáculos que se nos opõem até chegar à jovem.
Os conhecidos de ambos que auxiliam os nossos planos, são as correntes que entram para o mar, são os rios.
Quando os amantes confiam reciprocamente os seus segredos, há confluência.
Finalmente, o casar é morrer afogado.
Se a noiva tem até 18 anos, morre-se caíndo nim lago.
Dos 18 aos 25 anos, é poço; a morte é mais aflitiva.
Daí em diante é pântano.»
Assim escrevia o imortal Eça.
Aquele escritor com quem se aprende a escrever e principalmente o saber ser e estar.
( Retirado, com as adaptações necessárias, de «prosas esquecidas IV», Eça de Queiroz, 1867)