domingo, maio 04, 2008

O Interior cada vez mais pobre

Na Guarda, um empresário farmacêutico decidiu ir construindo, ao longo de vários anos, uma colecção de obras de arte.
Até aqui tudo normal.
Cada um é livre de coleccionar o que muito bem entender e, se forem obras de arte ainda melhor.
Só que a colecção de arte foi crescendo de tal ordem, que foi avaliada em mais de cinco milhões de euros.
Uma preciosidade. Julgar-se-ia por aqui.
Só que nem todos pensam assim!!
Os iluminados, os donos do poder e do saber por estas terras, decidiram que a colecção não interessava à região, nem aos munícipes nem à valorização do património cultural deste interior.
Ou seja, coisas de «pategos».
Assim sendo, pura e simplesmente ignoraram obras de Paula Rego, desenhos de Picasso, telas de Vieira da Silva, Arpad Szènes, Júlio Pomar, Cargaleiro e Batarda ou uma escultura de Rui Chafes, tudo de pouco interesse para os bacocos das câmaras de Pinhel e da Guarda.
A colecção de António Piné reúne, desta forma, peças dos mais importantes pintores e artistas plásticos portugueses do século XX.
Mais de 50 obras de arte contemporânea viajaram, da Guarda até Lisboa porque António Piné doou a sua colecção particular, à Associação Nacional de Farmácias (ANF).
«Despendia os tostões que tinha e que não tinha, porque comprei toda a arte com cheques pré-datados a longo prazo», revela António Piné.
Agora com 77 anos, considera-se «um mecenas». E só depois de «muita ponderação» resolveu doar a colecção à ANF.
A justificação é simples: «Atinge-se um limite em que se sente que a arte não é só nossa, não pode ser apenas para nosso próprio usufruto. A boa arte é para ser fruída pelo público. Tive-a sempre guardada e nunca tive, sequer, casa para a saborear devidamente, porque apenas uma grande galeria lhe poderia fazer jus», garante. De resto, António Piné defende que um bom coleccionador «nunca vende a arte que compra». A explicação é simples: «Tem-se-lhes tanto amor que os quadros não se desprendem de nós», sublinha.
Mais de doze anos à espera da Câmara de Pinhel, a primeira opção de António Piné, que foi a sua terra natal.
Isto depois de mais de doze anos à espera de um destino «várias vezes prometido» para o espólio. «Andei pelo menos doze anos à espera, enquanto iam mudando os executivos camarários», recorda. O anterior presidente da Câmara chegou a prometer-lhe uma galeria num palacete na praça principal, que entretanto deveria ser recuperado. «A verdade é que o edifício ainda lá está, com o telhado a cair», lamenta. Do actual presidente chegou a garantia de que lhe seria concedida «uma sala com dignidade», mas desde então «cada vez que me vê foge de mim», ironiza.
Também da Câmara da Guarda houve algumas promessas: «Chegou a ser feito um contacto há cerca de dois anos, prometeram-me um "grande projecto", mas ainda hoje estou à espera», afirma.
Assim, António Piné viu-se forçado a dar outro destino à sua colecção. «Com pena, porque sou um amante de Pinhel», assegura. Tudo indica que a exposição, possa ser itinerante o que não exclui a possibilidade de «um regresso à Guarda», ainda que temporário.
Ou seja, quem quiser visitar a exposição ou terá de ir ao litoral deste País, ou então, teremos uma vinda itinerante da obra, com a mensagem de «obra doada por um cidadão do distrito da Guarda»!!!
Assim, todos os que quiserem conhecer a colecção terão de esperar que um dia a mesma venha a ser requisitada, a pagantes, por aqueles que hoje a recusaram!!!!
Estranho e irónico destino!!!!
Mas para quê a cultura digna dessa palavra para os cidadãos do interior?
Chega-lhes bem as festas da cidade com a música pimba, foguetes e copos de vinho e uma chegada da volta a Portugal em triciclo ou lá no que quiserem, desde que cheguem, é o que interessa, DÁ VOTOS!!!
Faz-se a doação de um espaço, para um «futuro» museu de arte sacra, à diocese das Guarda!
Para a diocese já houve espaço!!!
O resto????
Que se diga que a casa projectada pelo arquitecto Mário Lino «já não é mais» do que um conjunto de paredes sem valor arquitectónico, fruto da incúria, desleixo e falta de interesse da câmara, é uma coisa, outra bem diferente era encontrar um espaço para expor a colecção das obras de arte.
Tudo mal nesta «fotografia» pornográfica de um bando de carpideiras idiotas e cretinas de um velório que afunda cada vez mais um interior.
Depois dizem que a culpa é dos outros.
E eles, os senhores do tempo e dos templos, das divindades locais que fazem????
NADA!!!
Como dizia o meu professor de Língua Portuguesa, tudo isto é o mesmo que «atirar pérolas a porcos» e como sempre as salas dos espelhos só mostram coxos mentais dançando uns com os outros, o baile das cortesias malfadadas dos corcundas petulantes.
Até quando?