José Afonso, uma das mais importantes figuras da música portuguesa, faria 80 anos hoje, domingo, mas morreu em 1987, em Setúbal, cidade derradeira de um percurso que tinha começado em 1929, em Aveiro, onde nasceu.
Com a música e o ensino, José Afonso traçou um mapa geográfico pessoal, de Faro a Coimbra, de Belmonte a Setúbal, com ponto de partida em Aveiro e passagem marcante por África.
Durante a década de 30, fez os primeiros estudos em África, um continente que lhe marcou o rumo dos passos anos depois, quando, em meados de 1960, deu aulas em Moçambique. Em 1940, com 11 anos, rumou a Coimbra, cidade epicentro da adolescência e palco das serenatas, no Orfeão e na Tuna Académica.
Ainda a concluir o curso na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, dedica-se à docência, a partir de finais dos anos 50, quase com 30 anos, num percurso nómada em escolas de norte a sul. Aos alunos ensinava História e Geografia, mas sobretudo vivência para que fossem pessoas e tivessem espírito crítico.
Já aí repartia o tempo com a composição, com a edição dos primeiros discos de fados e baladas de Coimbra e digressões com a Tuna Académica.
Teve uma passagem breve por Moçambique entre 1964 e 1967, onde deu aulas e fez, como admitiu, o seu baptismo político quando se vivia já a guerra colonial.
Esgotado com o cenário de conflito, voltou a Portugal em 1967. Tinha três filhos e foi colocado como professor em Setúbal.
É em finais dos anos 60, em pleno marcelismo, que José Afonso intensifica o trabalho na música e o activismo político. Depois de ter sido expulso do ensino oficial, desdobra-se em gravações e em concertos, muitos deles proibidos pela PIDE, a Polícia política.
Entre 1971 e 1974, assiste ao estertor do Estado Novo e à Revolução de Abril. Lança discos como "Cantigas do Maio", "Venham mais cinco" e "Coro dos tribunais", que o fazem trovador entre os cantores portugueses.
"Grândola Vila Morena", a senha do Movimento das Forças Armadas para a Revolução do 25 de Abril de 1974, inspirou-se numa breve passagem do cantor por aquela localidade alentejana.
Em 1983, com 54 anos e um longo percurso na música de intervenção e de inspiração tradicional e popular, José Afonso é reintegrado no ensino oficial e destacado para Azeitão, em Setúbal. Um ano antes, tinha-lhe sido diagnosticada esclerose lateral amiotrófica, fatal em 1987. Morreu a 23 de Fevereiro, em Setúbal.