Terminado o período eleitoral das autárquicas voltamos às crónicas semanais com o Ponto de Vista. Para início da crónica comecemos pelos resultados eleitorais no concelho da Guarda. A naturalidade com que quem está no poder ganha umas eleições são por demais evidente. Basta não fazer grandes asneiras, semear ilusões, distribuir empregos, patrocinar coletividades que agradam ao povo que não sabe, nunca lhe ensinaram, que a cultura não é só e apenas a do milho ou outra qualquer do mundo rural, que não sabe, nunca lhes foi ensinado que a leitura não se faz por resumos de obras, que Beethoven foi um génio da música e não tem nada a ver com o nome de um cão que a cinematografia de fraca ou nenhuma qualidade deu a conhecer, ou que Salvador Dali não é nenhum jogador de futebol contratado por um qualquer clube, mas sim um pintor espanhol de reconhecido valor. Mas isso aprende-se e principalmente faz crescer cognitivamente um povo para não se deixar enredar por populismos de toda a ordem. Acabado o tempo das promessas em papel molhado, os porcos no espeto bem regados, é altura de olhar com atenção para o muito que se fez acreditar no Éden, o tal jardim das delícias aqui pela Guarda. São 67 medidas, umas já concretizadas, outras sonhadas e outras de âmbito nacional que fizeram os guardenses, mais uma vez, acreditar em populismos. Não basta haver infinitos projetos se falta o principal - o dinheiro. Com os pés bem assentes na terra lembrar aos mais eufóricos que a economia portuguesa, segundo entidades como a Comissão Europeia, o Banco de Portugal, a OCDE e o Conselho de Finanças Públicas apontam todos para um défice em 2026, nomeadamente devido ao impacto dos empréstimos previstos no Plano de Recuperação e Resiliência. Ou seja, Portugal regressa aos défices. Quem apoia os sonhos de propaganda eleitoral em fundos europeus vai ter graves pesadelos. Lembrar aos mais incultos e menos conhecedores dos fundos europeus e do chamado Plano de Recuperação e Resiliência, ou denominado “bazuca”, são valores que no futuro breve vão ter de ser pagos à União Europeia. Não há neste como noutros casos almoços grátis. Tudo vai ter de ser devolvido. São apenas e tão-só empréstimos. Se os avisos do regresso à estagnação da economia, e aos défices são a considerar nesta altura que dizer do anúncio do aumento do desemprego? É que o Conselho das Finanças Públicas, a entidade que fiscaliza as contas do Estado, já avisou que uma subida do desemprego causaria danos imediatos no saldo orçamental. Segundo a referida entidade, têm sido as contribuições sociais a garantir os excedentes orçamentais dos dois últimos anos e o superavit de 0,7% de 2024. Em contraponto, a Administração Central, que tem apresentado défices, está sujeita a pressões crescentes de despesa e de difícil controlo, como sucede no Serviço Nacional de Saúde, e a novas exigências de despesa em investimento público e defesa nacional. Logo, seria de todo aconselhável avisar desde já o povo português que a tempestade já está a caminho e que quem acredita e faz acreditar em tempos radiosos que arrepie caminho. Basta estar atento ao que vai a acontecer por essa Europa. A França é o pior dos exemplos. Nenhum outro país da União Europeia está tão endividado em termos absolutos quanto a França. A dívida pública já ultrapassou 114% do produto interno bruto. E a taxa de endividamento continua a aumentar: especialistas estimam que ela poderá chegar a mais de 125% do produto interno bruto até 2030. Os hipócritas continuam a fazer-nos acreditar que isso só se passa além Pirenéus, que a crise está delimitada. A economia global são vasos comunicantes É só lembrar a crise de 1929, a Grande Depressão brilhantemente descrita em várias obras como “As Vinhas da Ira” de John Steinbeck, a crise financeira global de 2008-2009, gerada por problemas no mercado imobiliário dos EUA, e a crise financeira portuguesa de 2010-2014. As causas podem variar, mas há um denominador comum, o excesso de crédito, bolhas especulativas, quedas no consumo e crises de dívida. E crises de dívida! O pior de tudo é que a ascensão da extrema-direita e o anúncio de reformas sociais, todas elas tendo em vista a redução drástica dos direitos sociais conquistados após a II Guerra Mundial, estão a ser colocados em causa. Seria astuto e inteligente perceber o que um governo de Montenegro procura com a nova lei laboral, a célebre renda moderada de 2 300 euros quando a pobreza, segundo estudo recente da Prodata, não possibilita tal valor. De moderada não tem absolutamente nada. Sem falar das reduções no IRC, que se diz para aumentar os salários dos trabalhadores ou das igualmente falaciosas reduções no IRS e nas esmolas dos ditos aumentos das pensões. Haja algum pudor e deixem de chamar acéfalos aos portugueses. Por fim, não posso não devo esquecer o incêndio no Pavilhão Dona Amélia no Parque da Saúde na Guarda. Vergonhoso. Não faltarão as lágrimas de crocodilo, as moções, as recomendações e o tão anunciado montante que o executivo camarário tinha orçamentado para o projeto de reabilitação do edifício. Dizem que faltaram as faturas. É mais um exemplo de desrespeito pela nossa história. Povo que não sabe de onde veio, onde está e para onde vai, está condenado a repetir os mesmos erros.
Tenham uma excelente semana!