O ridículo na política é uma forma de esvaziamento da democracia. Mesmo dessa democracia representativa que agora lhe juntaram mais uma adjectivação a de ser liberal. Não há mais moral, muito menos ética, e ela mesma de nada vale senão como cobertura de uma democracia falida ou de fachada. Por isso, não há mais o valor da verdade. Estamos a ver crescer um fenómeno perigosíssimo que parece, tanto para os optimistas quanto para os ingénuos, algo inofensivo. O ridículo tornou-se útil. Ele é um meio de obtenção do poder, como uma isca estética. As visões mais idealizadas de sociedade dependem sempre de imaginação e da reflexão, de uma alta sensibilidade que em tudo se liga à inteligência como capacidade de sonhar, de criar, de sugerir mudanças, transformações e soluções. É essa subjetividade capaz de sonhar e de propor uma sociedade com outros valores ou princípios que é destruída por uma ordem ideológica na qual o sonho de uma sociedade mais justa para todos está proibido. Essa ideologia chama-se neoliberalismo. Cada um está convencido de que a vida política não faz sentido, mas não observam como ela faz sentido para as elites. Os cidadãos comuns, ou não sabem da prática da cidadania ou acham que ela não tem sentido. Vem tudo a propósito de acontecimentos nacionais que revelam o ridículo político a que se chegou neste nosso Portugal. Um diz respeito à presença no nosso país do Presidente da Eslovénia. O ridículo político vem da inauguração de um banco, desses vulgares bancos de jardim, pelo ilustre senhor, pelo presidente Marcelo e por um Moedas elevado à categoria de senhor feudal do burgo lisboeta. Uma cena patética. Inauguração de um banco? Se ao menos fosse a inauguração do tão anunciado e sempre adiado Banco de Fomento para gerir os fundos da bazuca ainda seria plausível. Um dia destes não faltará a inauguração de um mictório no arco do cego com a presença, quiçá da rainha de Inglaterra. Mas o ridículo continuou. O presidente da Eslovénia e respectiva comitiva deviam sair de Portugal num avião comercial. Só que houve um atraso e o comandante do avião não esteve com mais medidas. Não permitiu que se abrissem as portas do avião e levantou voo deixando apeado o presidente esloveno e a respectiva comitiva. Resultado, aquilo que uns imbecis chamam de Estado, que somos todos nós contribuintes, tivemos que pagar a módica quantia de 40 mil euros para se fretar um avião privado para pôr o presidente esloveno fora de Portugal. Vergonhoso. O país não é respeitado. Pois somos governados por gente que se curva perante ultrajantes situações de manifesta subserviência. Acrescentar que o sempre solicito Santos Silva, ministro dos Negócios Estrangeiros não comentou o sucedido o que diz tudo. Explicações? Chega-vos deitar o papelinho na urna. E, por falar em eleições que dizer da repetição das eleições legislativas no círculo da Europa? O ridículo elevado à enésima potência. Em 2019, aquando das eleições legislativas milhares de votos dos emigrantes foram parar ao lixo. A razão apontada foi que os mesmos não cumpriam a lei, não vinham acompanhados da respectiva fotocópia de um cartão de identificação como determina a lei. Para não caírem de novo no ridículo político os digníssimos representantes, leia-se partidos políticos, acordaram em fazer do articulado lei morta. Ou seja, acertaram que todos os votos com ou sem cópia do cartão do cidadão deviam ser aceites como válidos. Um momento de reflexão, por favor. Pensem na gravidade da situação. Uns representantes decidem passar por cima da lei e infringi-la. Um verdadeiro nojo. Face ao sucedido pode-se e deve-se imaginar tudo. Temos esse direito face ao sucedido. Mas o ridículo político não se fica por aqui. O PSD de Rui Rio vem denunciar o acordo. E a confusão instalou-se. No dia da contagem dos votos há mesas que consideram todos os votos válidos, com ou sem fotocópia do cartão do cidadão, mesas de contagem de votos que separam votos válidos dos anulados face ao estimulado na lei e outras mesas que misturam tudo. E, face à confusão reclama-se para o Tribunal Constitucional. O Conde Andeiro tinha voltado gritava-se a plenos pulmões. Ou teria sido o Martim Afonso? Zombies à solta. Quem nos acode? E o Tribunal Constitucional manda repetir as eleições. Não há que valorizar nada na atitude do Tribunal Constitucional. Apenas cumpriu a lei. Quem não o fez foram o ditos representantes que tentaram enganar, mais uma vez, os portugueses. E o que dizer do PSD em apenas anuir em reclamar nos apuramentos dos votos dos eleitores da Europa e esquecer os de fora da Europa. É que também se passaram situações análogas. Será que é pelo facto de no círculo fora da Europa o PSD ter ganho e na Europa ter perdido? O ridículo da política. Já para não falar de uma Comissão Nacional de Eleições que numa patética e ridícula conferência de imprensa repleta de imbecilidades e lugares comuns ter dito a páginas tantas que uma qualquer mesa de contagem de votos, em qualquer lugar mais ou menos recôndito deste país pode aceitar como válidos todo e quaisquer votos, com riscos, desenhos e outras provocações desde que não haja reclamações. Ridículo político. A lei é feita para não ser cumprida. O primeiro-ministro Costa vem dizer esta coisa ridícula que o Estado deve um pedido de desculpas aos portugueses. Calma aí senhor primeiro-ministro. Isso é outro ridículo político. O senhor sabe que os elementos constitutivos do Estado são: poder, povo, território, governo e leis. E o povo não deve desculpas a ninguém. Não confunda as pessoas. Os culpados foram os representantes, os eleitos, os nomeados. Seja verdadeiro. Por fim que dizer de um Marcelo, professor de Direito Constitucional, vir dizer que nunca, em tempo algum haveria lugar ao adiamento da tomada de posse dos representantes na assembleia e do governo, chovessem picaretas ou as vacas voassem. As tomadas de posse lá foram adiadas. Mais uma vez o ridículo político. Fica, no entanto, uma dúvida Marcelo quis condicionar a decisão do Tribunal Constitucional? Grave, muito grave.
Tenham um boa semana.
(Crónica Rádio F - 21 de Fevereiro de 2022)