quinta-feira, dezembro 13, 2007

As rosas de Sócrates


Na Esquerda.net, Cecília Honório escreve sobre o «discurso» de Sócrates, na Assembleia da República, a propósito da Educação em Portugal.
Um artigo de leitura obrigatória.
Aqui fica a sua transcrição:
«Trinta anos de bagunça na educação, por conta de governos do PS e do PSD, tiveram no último debate mensal com o Primeiro-Ministro a sua paródia natalícia.
Sócrates e Santana, empolgados na verborreia quando concordam no essencial - rebentar com o pouco que sobra da gestão democrática das escolas - foram a cara da hipocrisia do consenso neoliberal em matéria de educação.
Agora as escolas vão ter directores, parece que por concurso público nas mãos de um Conselho Geral, e da única coisa que Santana não gosta é que seja um professor.
Na verdade, PS e PSD vão a enterrar o seu morto.
O modelo de gestão, que está para conhecer a luz do dia, mais não dá do que a extrema-unção à gestão democrática. Mal amada pelos governos PS e PSD, chicoteada pelo centralismo do ME, abrigando muitas vezes poderes que, sem limitação de mandatos e sem avaliação e vigilância sérias, se foram eternizando com tiques autoritários, a gestão democrática foi-se desfigurando. O equívoco era, aliás, insolúvel: os conselhos executivos, eleitos pela comunidade (professores, famílias, alunas e alunos, pessoal não docente), de onde extraíam, em teoria, a sua soberania e os conteúdos da sua representatividade, sempre tiveram de se portar como cadeias de transmissão do ME, gostassem ou não.
Certo mesmo é que o governo PS detesta esta coisa da soberania das comunidades que fazem as instituições. Alunas e alunos, professores, funcionários a votos e órgãos de gestão eleitos são coisas reaccionárias. Avaliar os modelos? Fazer prova das lacunas? Para quê? Para o governo PS o que dava jeito era isto ser um país de capatazes.
Mas o discurso flautista do Primeiro-Ministro sobre educação, a prendinha no sapato pedida por Cavaco, atingiu a sua mais sublime nota com a redução em 8 pontos percentuais da taxa de retenção (os "chumbos") no ensino básico.
O governo do PS não mexeu nos currículos do ensino básico (a não ser para privatizar parcialmente o currículo do 1.º ciclo e reforçar o tempo de aprendizagens formais das crianças), não melhorou a qualidade física das escolas, não mexeu no tempo esmagador que as e os jovens de 2º e 3º ciclos passam na escola, adiou o direito à escolaridade obrigatória universal - ao desprezar a urgência de equipas multidisciplinares e redes sociais que atenuem as desigualdades de partida das crianças e jovens e ao criar os CEF - e deu uma cacetada na(o)s professores como não há memória. Mas com tudo isto, Sócrates garante que a taxa de retenção, em dois anos lectivos, foi reduzida em 8 pontos percentuais...Milagre.
As taxas de retenção no ensino básico, segundo as estatísticas oficiais do ME, pouco se mexeram nos últimos dez anos, mantendo-se acima dos 10 pontos percentuais. Os números repetem-se, ano a ano, marcando a pesada rota do insucesso. A ínfima evolução que as ditas taxas de retenção tiveram deve-se ao facto de se ter tornado proibido para as estatísticas a retenção no 1º ciclo, à insignificante melhoria no 2º e à regularidade dramática dos números no 3º ciclo (sempre à volta dos 20%).
Mas Sócrates descobriu que, cita-se, "(...) entre 2005 e 2007, a taxa de retenção no ensino básico baixou 8 pontos percentuais". Milagre!
Se a taxa de retenção do ensino básico era, segundo as estatísticas do ME, de 10,7% em 2005/2006 só pode ter passado para 2,7% em 2006/2007 e Sócrates e Maria de Lurdes Rodrigues devem ao país a explicação destes números.
Entretanto, Cavaco bem pode exultar e o dedo do Primeiro-Ministro lá do palanque bem pode avisar: a ministra vive! São rosas, senhores... »

quinta-feira, dezembro 06, 2007

SEGURAMENTE A MELHOR FRASE DO ANO

"Querido filho, estás a cometer no Iraque o mesmo erro que eu cometi com a tua mãe: Não retirei a tempo!"

quarta-feira, dezembro 05, 2007

A dívida

A confusão do empréstimo da câmara de Lisboa está bem explicado pelo Francisco Louçã, na esquerda net.
Aqui fica o esclarecimento para que se compreenda:
«O episódio da votação do empréstimo na Câmara de Lisboa revelou o novo estilo do PSD. Caceteiro, ameaçador, contraditório, ignorante.Caceteiro: os deputados municipais não têm direito sequer a formularem a sua opinião na reunião do partido, e não podem submeter a votação interna as diversas propostas.
Ameaçador: o presidente da distrital lembrou aos interessados que dentro de um ano estará a fazer as novas listas e que não se esquecerá de quem não obedeceu a instruções. Contraditório: o presidente da Câmara mais endividada do país preocupa-se com o aumento da dívida de Lisboa, que serve para pagar a despesa feita por duas presidências PSD em Lisboa. Ignorante: o PSD adverte que o empréstimo aumenta o défice registado, ignorando que a transferência da conta de dívidas a terceiros para a conta de dívidas à banca deixa o défice exactamente na mesma.
É isto o estilo Menezes.
Mas talvez o mais importante seja o carácter negociador, ameaçador e trauliteiro desta nova forma de fazer política. Tudo se negoceia, com Menezes. Na segunda-feira, são 200 milhões, na terça-feira já são 400 milhões. Na campanha interna, é acabar com o pacto da justiça, depois de eleito tem dias - de manhã acaba-se com o pacto, à noite salva-se o pacto, entretanto negoceiam-se outros pactos. Tudo são ameaças, fugas, insinuações. Menezes quer ser imprevisível e é por isso confuso, quer dizer-se determinado e é por isso trapalhão.
O estilo Menezes é o velho estilo do "agarrem-me senão eu vou-lhe bater". Mas agarrem-me depressa. Cuidado comigo.
Menezes não parece perceber que este estilo resulta uma vez mas não resulta duas vezes. Impressiona à primeira e farta à segunda. Depois, é somente um incómodo, uma perturbação. Não é uma resposta de poder, nem muito menos um primeiro-ministro em tirocínio.
O estilo Menezes é uma bênção para Sócrates. Alinha a direita na irrelevância. Ainda por cima, como dizia entristecido um deputado do CDS no debate sobre a Estradas de Portugal, o PS está a passar o CDS pela direita nas grandes escolhas estratégicas. O estilo Menezes é o que mais convém a esta política. O caso de Lisboa demonstrou como o PSD é confuso mas previsível, ameaçador mas inconsequente.
Quem negoceia tudo não pode ser nunca levado a sério.
»
Francisco Louçã