O executivo camarário da Guarda entrou em modo de desnorte e a personalizar todos os assuntos no seu presidente. Ninguém ouve ou vê algum dos outros membros do executivo a intervir no quer que seja. Dá ideia que são apenas figuras decorativas. Numa última reunião do executivo camarário, o vereador do Partido Socialista questionou o presidente da edilidade, Sérgio Costa, sobre a situação da empresa intermunicipal APAL, Águas Públicas em Altitude. Ora, como os guardenses já perceberam, pelo menos nas facturas, que vão chegando sobre o consumo da água, a APAL é uma empresa que gere os serviços de água e saneamento de quatro concelhos, da Guarda, Celorico da Beira, Manteigas e Sabugal. Começou a facturar a partir de junho deste ano. Ora o vereador do Partido Socialista questionou, com toda a legitimidade e legalidade, o presidente da câmara da Guarda sobre número de funcionários, as consultadoras contratadas, os cargos que as pessoas desempenham e as respectivas remunerações da dita empresa intermunicipal. Tudo, mas tudo o que um vereador da oposição, representante eleito, pode e deve questionar o executivo para que os cidadãos sejam igualmente elucidados sobre um tema. É o mínimo que qualquer cidadão, incluindo um vereador eleito, pode e deve saber e ser esclarecido! Mas a resposta do presidente Sérgio Costa foi mais uma vez ridícula e pior, numa atitude inqualificável aconselhou o vereador socialista, autor das perguntas, a preparar-se melhor para as reuniões do executivo e recordou que foi a oposição que votou contra os nomes propostos para o conselho de administração da APAL e que por essa razão o processo foi mais moroso. Isto é resposta às perguntas do senhor vereador? Isto é ser-se transparente nos actos públicos? Achincalhar um vereador, um representante do povo, ridicularizá-lo, pois ao dizer-se taxativamente que o vereador em causa devia preparar-se melhor para as sessões do executivo é de uma falta de lisura, educação e civismo. Nesta altura importa referir a minha declaração de interesses relativamente ao tema. Não tenho nenhuma procuração do senhor vereador do Partido Socialista para o defender, mas é uma questão de princípio republicano e de ética e, principalmente, de defesa da transparência que falo do assunto. Que fique claro. É que por todos os motivos e mais um o caso da empresa intermunicipal, APAL, é neste momento alvo de muitas críticas da parte dos guardenses, logo a oportunidade de saber como a empresa trata os munícipes dos concelhos que integram a tal empresa municipal. Ora, ficou-se a saber que os guardenses pagam o preço da água por metro cúbico superior ao de Lisboa e pior, muito pior, do que em Manteigas, um dos municípios que também integra a tal empresa APAL. A fatura da água em Manteigas é quase a metade do preço do que é na Guarda! Uma entidade com dois preços de água diferentes. E se olharmos para o saneamento e os resíduos sólidos, mais escandalosa é a diferença de preços. A taxa fixa de saneamento na Guarda é quase o dobro do que em Manteigas e o mais escandaloso é a taxa fixa dos resíduos que é mais do triplo. Os guardenses queixam-se, e com carradas de razão, do aumento exorbitante das facturas do consumo de água e da desigualdade de tratamento entre municípios. Quem pode aceitar tal situação? O que leva um executivo camarário a escusar-se a responder às perguntas de um vereador da oposição com artifícios de linguagem e de figuras de retórica? Nada que não seja já do conhecimento de muitos guardenses. Já Karl Popper definiu a democracia em contraste com a ditadura ou a tirania, privilegiando, assim, oportunidades para as pessoas de controlar os seus líderes e de tirá-los do cargo sem a necessidade de uma revolução. É só estudar! Bem sabemos, e voltamos a repeti-lo até à exaustão, que a água é um bem escasso e logo merece maior atenção no seu consumo, mas não penalizando os consumidores e oferendo-a para a lavagem de bicicletas, como acontece no Parque Urbano do Rio Diz. Ou seja, são sempre os mesmos a pagar a factura de forma arbitrária e sem critério. Já que falamos do Parque Urbano do Rio Diz quando haverá arranjo dos estragos causados pelo tal dia do Exército? E quando substituem as lâmpadas de muitos candeeiros que não funcionam e tornam o espaço inseguro? É que dinheiro parece não faltar ao executivo camarário para realizar uma inusitada Corrida de S. Silvestre, em época natalícia e de arranjos florais. Tudo, mas tudo a preparar a campanha eleitoral que se avizinha. Mas desses e de outros assuntos falaremos em próximas crónicas.
Até lá tenham uma excelente semana.