Marcelo foi à Feira do Livro de Lisboa fazer que via livros para dizer coisas ou dizer coisas a fazer que via livros, tanto faz. Podia ter sido numa qualquer Feira do Pão, do Queijo, do Vinho ou na Feira da Bagaceira num qualquer lugar inóspito deste nosso país.
Não, foi na Feira do Livro e em Lisboa.
Como sempre anunciou o que quis mesmo que sejam acontecimentos a ocorrerem daqui a alguns meses. Disse que vai convocar um Conselho de Estado para daqui a dois meses, quando o pagode estiver a banhos de Verão. Será o enésimo Conselho de Estado convocado desde que é Presidente da República, como se o Conselho de Estado tivesse um papel determinante na governação do país.
Marcelo falava a olhar para o infinito, e volta e meia pontuava o monólogo com um sorriso de orelha a orelha, "já viram como sou genial e muito mais inteligente que vocês, jornaleiros investidos de jornalistas?", pensava ele.
E no meio daquela floresta de microfones, telemóveis e gravadores de som empunhados por jornalistas da Farinha Amparo há uma voz feminina que não uma, não duas, mas três vezes tenta perguntar uma coisa qualquer a Marcelo antecedida de um "senhor primeiro-ministro".
"Missão cumprida".
Era a esta dimensão que Marcelo queria chegar, vai ao âmago dos totós com a cumplicidade ignorante dos palermas.
Já antes, em Viana do Castelo, perante uma plateia dizia «que quando o poder começa a descolar do povo, é o poder que tem de mudar, e não o povo». Agora o comentador Marcelo já não fala e muito menos ameaça com a dissolução do parlamento. Manda missivas, mais ou menos ininteligíveis ao comum dos cidadãos. Mensagens bem subliminares. Significativo, ou talvez não, com Marcelo o que pode parecer não é. Por exemplo a utilização do termo «descolagem». Marcelo traz para o discurso um termo próprio dos aviões. É o subconsciente a trazer para o discurso casos que Marcelo não conseguiu ultrapassar. Mas Marcelo comentador acrescenta: "É muito simples: é mais fácil mudar de instituições do que as instituições mudarem de povo”. Marcelo a esclarecer tudo. Para Marcelo, “ou as instituições percebem que têm de mudar, ou então a realidade muda independentemente daquilo que as instituições acham que deve mudar”. “Vamos fazer um esforço para que se avance neste período o máximo que for possível avançar, e que as instituições que têm de mudar percebam que têm de mudar, porque também não adianta muito se fizermos um grande esforço e as instituições continuarem a resistir”, “Não mudam a bem, mudam a mal. Nós tínhamos preferido poupar a revolução”, acrescentou Marcelo. “Os portugueses merecem um país melhor”, defendeu por fim Marcelo. Estamos em completo acordo. Os portugueses merecem um país melhor. Desde logo um país mais social e menos assistencialista. Um país onde a corrupção seja combatida desde os assaltos ao pote que vão acontecendo pelo país, nomeadamente a nível de autarquias onde os relógios marcam a hora ou o tutti fruti é servido a gosto do PS e do PSD. Na melhoria dos serviços públicos. Na justiça, educação, saúde e outros a funcionarem sem amarras a interesses e extensivos a todos os cidadãos portugueses.
Mas igualmente a pensar no que um primeiro-ministro de Portugal disse sobre a classe média. Dar mais oportunidades a uma classe média que atravessa momentos difíceis com ordenados e pensões de miséria, com uma carga fiscal elevadíssima e uma inflacção galopante é uma desconsideração para os cidadãos portugueses.
Tem toda a razão o senhor primeiro-ministro quando diz que é a classe média quem assegura a existência da democracia.
É quando a classe média se sente abandonada, desamparada, insegura, que os radicalismos se desenvolvem, o populismo cresce e a extrema-direita se torna uma ameaça, ou seja exactamente aquilo que o governo tem feito.
Merecemos um país muito melhor, com melhores políticos e com novas políticas que ajudem os cidadãos.
Tenham uma boa semana.