Os
cidadãos da Guarda foram brindados, no final do mês de Julho, do corrente ano,
com mais uma preciosidade do executivo camarário – o Boletim Municipal.
Os
carteiros lá transportam para cada caixa de correio, do cidadão da Guarda, a
«voz do dono»! Gostava de saber se não haverá por aí uma perversão do direito a
não receber publicidade. É que o «boletim municipal» configura um panfleto de
publicidade, ainda por cima enganosa. Desde logo não é indicado o número de
exemplares do mesmo. Depois falta a indicação da sua periodicidade. Grave,
muito grave! Os «doutos» senhores percebem pouco ou nada de informação o que não
se estranha dada o seu fraco desempenho a nível nacional. O «boletim» é o
exemplo acabado do culto da personalidade. O culto de personalidade ou culto à
personalidade é uma estratégia de propaganda política baseada na exaltação das
virtudes - reais e/ou supostas - do governante, bem como da divulgação
positivista da sua figura. Não se julgue, no entanto, que os cultos de
personalidade são apenas encontrados em ditaduras. Nada disso! Já fazem o seu
percurso, com resultados bem apoteóticos, nas democracias.
O culto
inclui cartazes gigantescos com frases bombásticas que procuram traduzir obra e,
bem como a sua constante bajulação por parte de certos meios de comunicação e
muitas vezes perseguição aos que se recusam a aceitar tamanha patranha. O
«boletim» municipal da Guarda, número 2, cuja publicação custou aos
contribuintes, segundo consta do portal BASE – contratos públicos, a módica
quantia de 10 500€ mais IVA, é o paradigma do culto à personalidade do
presidente da câmara. Desde a primeira até à última página, em papel de
altíssima qualidade, fotografias a cores, tudo é presunção, água benta e muita,
mas mesmo muita, gabarrice. Tudo isto para demonstrar a vaidade de quem manda e
a quem devemos obediência. Devemos? Talvez que alguém deva! A grande maioria do
povo do concelho da Guarda não deve nada… paga para ver! Os enfeites
apresentados querem fazer esquecer que a Guarda perdeu população; que a Guarda
perdeu alunos no pré-escolar, ensino básico e ensino secundário, mais de 2 000 alunos
de 2001 até 2016; o número per capita de médicos e farmacêuticos diminuiu; baixou
o número de contribuintes para a Segurança Social; aumentaram os apoios da
Segurança Social e, apesar dos milhões anunciados, para criar empregos, o
desemprego aumenta! Quanto a Hotel Turismo, NADA! Quanto ao ambiente nem falar
do abate de árvores, do estado deplorável de parques e zonas de lazer e
aprendizagem lúdica o que é tudo, menos uma cidade que educa. Como culminar aí
temos uma taxa de abstenção, em eleições autárquicas, das mais elevadas a nível
nacional. Todos estes dados, e bem assim como outros, estão disponíveis no
PORDATA e não em nenhum «boletim». Tudo isto é prova de que pouco se pode fazer
contra a vaidade humana que, mesmo em tempos republicanos e democráticos,
insistem em práticas ditatoriais. Não sabem que a História é feita pelos povos.
O tempo de reis, rainhas, marquesas, viscondes e em particular bobos terminou.
Não sabem!
(Crónica no jornal O Interior - 9 de Agosto 2017)