Carlos Moedas é o Secretário de Estado da Troika. Foi escolhido por Passos Coelho para essa função (que lhe perdoou o apoio a Paulo Rangel nas últimas eleições internas do PSD). No cargo Moedas procurou fazer o possível para a aplicação do plano da Troika – montou e dirige a ESAME (Estrutura de Acompanhamento de Memorandos) que concentra a tecnocracia necessária à aplicação do memorando, dirige com António Borges os processos de privatização e está na linha da frente da desmontagem do Estado social tal qual o conhecemos. Esta semana Moedas tentou o impossível: afirmar, sorridente, que o relatório do FMI é bem feito e que serve os interesses do País. Nem a direita engoliu o recado. Muito trataram de diminuí-lo, classificando-o de tecnocrata e “assessor”. Mas Moedas não é um pormenor. É o interlocutor do Governo com a troika. Defende o relatório porque o Governo defende o relatório – quer tomá-lo como ensaio do anúncio futuro ao País. Por isso, não nos enganemos. Neste processo, Carlos Moedas é o Governo. O que impõe a pergunta, quem é e quem representa este Secretário de Estado?
De aprendiz de privatizador a funcionário do Goldman Sachs
Carlos Moedas afirmou numa entrevista que os melhores anos da sua vida foram passados na Harvard Business School. O ninho de gestores da elite mundial, para onde foi depois de uma passagem pela gigante francesa Suez-Lyonnaise des Eaux, empresa que abocanhou boa parte das privatizações das águas públicas na Europa, sudeste asiático e América Latina. A passagem por Boston, em 2001, rendeu-lhe as boas graças do Goldman Sachs, o mesmo Goldman Sachs que já nessa altura emitia lixo financeiro a partir da especulação imobiliária, contribuindo com a sua parcela da crise financeira de 2007/2008. Carlos Moedas rumou depois a Londres para representar o banco em “aquisições e fusões na área imobiliária”, António Borges foi seu conselheiro e companheiro de jornada. O bom trabalho valeu-lhe a transferência para o Eurohypo Investment Bank (Grupo Deutsche Bank), onde contribuiu com o seu saber na aquisição da imobiliária sueca Tornet pelo Grupo Lehman Brothers, o mesmo Lehman Brothers que faliu em 2007, fazendo estourar a bolha do imobiliário.
De gestor imobiliário a testa-de-ferro do grupo Carlyle
Em 2004, o atual Secretário de Estado retornou a Portugal para assumir o comando da Aguirre Newman, empresa de consultoria imobiliária com grande influência no mercado português. Nos anos seguintes, a Aguirre Newman manteve relações muito próximas com a NORFIN, a sociedade imobiliária de Miguel Pais do Amaral (Quifel Holdings), João Brion Sanches (BCP), Alexandre Relvas (dirigente do PSD), António Vilhena e Filipe de Button (Logoplaste). Nesse período, Carlos Moedas intermediou várias negociações, como o fundo da Quinta da Trindade, no Seixal, que valeu 200 milhões de euros à NORFIN, ou ainda o polémico caso da Office Park Expo (atual Campus da Justiça).
A ligação foi tão intensa que, em 2008, Carlos Moedas encabeçou, conjuntamente com os sócios da NORFIN, a Crimson Investment Management, uma holding do Grupo Carlyle – o portento do armamento e petróleo (o mesmo grupo a quem Durão Barroso ofereceu 45% da Galp em 2004) – que já possui parte do Freeport em Alcochete. Três anos depois, já com Carlos Moedas no Governo, a NORFIN foi escolhida para a gestão do fundo do “Mercado Social de Arrendamento”. A vida, como sabemos, dá muitas voltas.
A senhora Moedas e o sócio do BES
Com a ida para o Governo, Carlos Moedas ficou obrigado por lei a desfazer-se das suas sociedades. O Secretário de Estado não perdeu tempo. No dia 10 de dezembro de 2011, na 4º Conservatória do Registo Comercial de Lisboa, a sociedade Crimson Investment Management transformou-se em sociedade unipessoal da esposa de Carlos Moedas. Quando foi questionado sobre esse processo pela revista Sábado este esclareceu, “podia ter ficado com a empresa [crimson] mas não quis por uma questão de honra pessoal”. E honra, como sabemos, não é coisa que se transacione no terminal da bloomberg.
Esta não é, porém, a única sociedade do adjunto de Passos Coelho. Ele detém uma participação na WIN World, cuja especialidade é a organização de palestras e cursos de formação para empresários. Como sócio de Moedas na WIN World encontramos: Miguel Pitté Reis Moreno, membro do Conselho de Administração da Tranquilidade Seguros (BES), seguros (BES) e Espírito Santo Saúde. Reis Moreno é, portanto, um grande conhecedor do mercado de seguros em Portugal, um conhecimento que pode ser muito útil ao seu sócio, uma vez que Carlos Moedas é o responsável pelo processo de privatização dos seguros da CGD.
Este é o homem, o «moedinhas», que o PSD e CDS escolheram para estar numa mesa com a troika. Este é o homem que representa um Governo que podemos escolher derrubar.