quinta-feira, abril 27, 2017
terça-feira, abril 25, 2017
Ponto de Vista
Na
semana em que se comemora o 25 de Abril não podia deixar de falar da data. Não pelo
lado do simbolismo, dos arranjos florais, das bonitas e versejantes frases de
salão, enfim, do politicamente correto.
É
o lado da História que me toca, a consciência de um momento único e
irrepetível, como são todos aqueles que mudam para sempre o nosso destino
colectivo. O 25 de Abril de 1974 foi uma revolução, e as revoluções provocam –
por definição – uma mudança abrupta no poder político. Ficou na minha memória
uma revolução assente nos três D do programa do Movimento das Forças Armadas:
Democratizar, Descolonizar e Desenvolver. Muito haveria para dizer acerca do
cumprimento ou do incumprimento de cada um destes objetivos. Apesar dessa
ambiguidade e da tarefa hercúlea que o povo português teve de enfrentar, foi
possível construir pontes para a ultrapassagem de alguns desses desafios. Um
deles é aquele que me permite estar a falar-vos disto nesta minha crónica.
Esqueçamos,
por momentos, o muito que nos foi prometido e que nunca foi alcançado. Hoje, nas
vésperas da comemoração de uma das mais importantes datas da contemporaneidade
portuguesa, africana e também europeia, tenho de recordar aqui alguém que
merece um destaque muito especial. Falo obviamente de Salgueiro Maia.
A
História consagra-o como o maior exemplo de coragem do 25 de Abril.
Naquele dia, Salgueiro Maia teve o seu encontro com o destino de todos nós. Que
os mais novos nunca esqueçam que foi ao princípio da madrugada, na parada da
Escola Prática de Cavalaria, que Salgueiro Maia afirmou perante 240 homens:
"Meus senhores, como todos sabem, há diversas modalidades de Estado: os
Estados sociais, os corporativos e o estado a que chegámos. Ora, nesta noite
solene, vamos acabar com o estado a que chegámos!". E a verdade é que
acabou mesmo…
Todos
os que poderiam ter hesitado cederam ao carisma de Salgueiro Maia. Às três e
meia da manhã, dez viaturas blindadas atravessaram a porta de armas da Escola
Prática de Cavalaria, comandadas pelo capitão sem medo, com o objectivo de atingir...
Toledo, o nome de código para o Terreiro do Paço e os seus ministérios, ou
seja, o coração do regime. A partir desse momento os passos do capitão
confundiram-se com a história da própria revolução. Ao longo do dia ele viria a
correr as situações de maior perigo e de tensão, as quais enfrentou com invulgar
serenidade.
Ao
fim da tarde daquela quinta-feira o cerco militar montado no Terreiro do Paço
forçou o presidente do Conselho, Marcello Caetano, à rendição. Sempre avesso a
privilégios e a honrarias, Salgueiro Maia, recordado como o capitão sem medo,
desapareceu a 4 de Abril de 1992, deixando à laia de epitáfio uma das frases
que mais conformam o seu carácter e o espírito das suas acções: «Não se
preocupem com o local onde sepultar o meu corpo. Preocupem-se é com aqueles que
querem sepultar o que ajudei a construir.»
Sofia
de Mello Breyner Andresen homenageou-o de forma divinal com o poema que passo a
ler:
Aquele que na hora da vitória respeitou
o vencido
Aquele que deu tudo e não pediu a paga
Aquele que na hora da ganância
Perdeu o apetite
Aquele que amou os outros e por isso
Não colaborou com a sua ignorância ou
vício
Aquele
que foi «Fiel à palavra dada à ideia tida» como antes dele mas também por ele Pessoa
disse.
Se
Salgueiro Maia não fosse só por si um dos maiores vultos da portugalidade, o
contraste entre ele e tudo o que de seguida nos caiu em cima não deixaria de o
elevar ao estatuto daquilo que nunca seremos. Somos todos, mas todos, tão
pequeninos à beira dele. Sobretudo aqueles que mais beneficiaram, bem ou mal,
da revolução.
Tenham
um muito bom dia.
(Crónica na Rádio F - 24 de Abril 2017)
sexta-feira, abril 21, 2017
Ponto de Vista
O
Ministério Público arquivou o processo contra o ex-ministro e ex-conselheiro de
Estado Dias Loureiro. Na sua pronúncia de arquivamento o Ministério Público confessou
a sua incapacidade para obter provas suficientes da prática de crime, pesem
embora os muitos indícios existentes. Significa isto que não concluiu pela
inexistência de crime, nem que os arguidos no processo não o tenham praticado. Fez
até constar as suas suspeitas no fim do processo, nomeadamente quando afirmou
que as complexas operações financeiras mais não foram do que uma cortina de
fumo para tirar dinheiro do BPN em benefício dos arguidos.
Conhecida
esta decisão, logo o ex-ministro, ex-conselheiro de Estado e ex-deputado do PSD,
Loureiro, veio a público bater com a mão no peito, considerando tudo isto como
uma aberração, uma aberração absoluta.
Há
duas formas de se olhar para tudo isto. Uma é a de Loureiro, circunscrita às
questões legais e de mera forma processual. Outra é a do senso comum, nem
sempre compatível com as leis.
Toda
a gente já percebeu que um bando de ministros, primeiros-ministros, deputados, magistrados,
banqueiros, jornalistas, comentadores, etc., se uniu, conscientemente ou não,
para criar e defender um sistema que permite que coisas destas continuem a
acontecer. Esse sistema, para funcionar, precisa de toda essa nata social e do
adequado embrulho de uma justiça lenta, burocrática e corporativa, muito
convenientemente barricada nos chamados direitos fundamentais.
Dou
um exemplo que todos percebem. Se por acaso se descobrir que um qualquer
sem-abrigo tem uma fortuna de 100 mil milhões de euros, é o Estado que tem de
provar de onde veio tanto dinheiro, e não o sem-abrigo que tem de explicar como
lhe deitou mão.
Por
isso que ninguém se admire que Loureiro tenha aproveitado o sistema para se
mostrar “estarrecido” com as "insinuações" que diz existirem num
despacho de arquivamento de um processo em que era suspeito de burla
qualificada, branqueamento e fraude fiscal. A mera leitura das 99 páginas do
despacho de arquivamento revela — para uma pessoa de inteligência média, é
certo — para que servia a arquitetura das operações e das decisões envolvidas,
mas Loureiro nem sequer conseguiu estar ao nível de um sem-abrigo – que seria
calar-se – e não resistiu a vestir as vestes de virgem ofendida.
Pelo
meio ficam sem resposta as dúvidas sobre os 13 mil milhões que já doámos à
agiotagem, os crimes do GES e do BES, do BANIF, das PPP rodoviárias, das manigâncias
da Parque Escolar, dos despautérios do BPN e do BPP, da desnatação e desmanche
da PT, das fortunas sem qualquer explicação lógica e razoável, etc., etc.
É
tudo rapaziada que já ficou impune nos primeiros ciclos de vampirização dos
recursos públicos – como o foram os perdões fiscais de Oliveira e Costa, os
desvios do Fundo Social Europeu, as derrapagens das obras públicas de Cavaco.
Era o que faltava caírem agora, muitos deles já reformados e bem reformados,
com as vidas de luxo para filhos, genros e enteados bem gizadas e com o tempo
repartido entre passeios com os netos e almoços com aqueles jornalistas e
magistrados que contam.
Lamentavelmente,
não podemos conhecer uma parte substancial do processo, uma vez que 1138 folhas
das 2830 que constituem o mesmo não podem ser consultadas por decisão do DCIAP,
que igualmente proibiu a consulta dos anexos e apensos, numa decisão muito
provavelmente ilegal mas difícil e morosa de combater. Assim é-nos impossível saber
quanto tempo esteve o processo parado e porquê, quais as exatas dificuldades
com que se deparou, ou até qual o real entusiasmo do Ministério Público.
A
única certeza com que ficámos, para além da indignação de Dias Loureiro, é que
no fim quem paga a conta são os mesmos de sempre. Como disse um dia Martin
Luther King «nada no mundo é mais perigoso do que a ignorância sincera e a
estupidez conscienciosa».
Um bom dia para todos.
(Crónica na Rádio F - 17 de Abril 2017)
terça-feira, abril 18, 2017
Crónica
Os negócios e a vergonha ou a falta dela
Na vigência do executivo camarário de Joaquim Valente, a Câmara Municipal da Guarda decidiu alugar o antigo “edifício do bacalhau” e cedê-lo à família Raimundo para esta aí instalar a sua escola profissional da Guarda.
A Ensiguarda, assim denominada, assumiu de imediato para muitos militantes do PS uma natureza de poder magnético e as ligações entre a autarquia e a direção da escola nunca passaram de aí em diante despercebidas aos mais atentos. Pelo meio, o edifício sofreu obras de restauro e outras mais-valias que ajudaram a promover o negócio da família Raimundo. Julgo não estar equivocado se recordar aqui que a autarquia procedeu ao pagamento de uma renda mensal de 2 mil euros durante um ano, com o compromisso adicional de comprar o imóvel no final de 2010. No caso de não o comprar, a renda seria atualizada para os 25 mil euros mensais.
Ora, o executivo de Valente nem comprou o edifício, nem terá pago as rendas. Por isso o assunto resvalou para os tribunais. Como o edifício foi entretanto comprado pela fundação proprietária do estabelecimento de ensino, está criada uma espécie de imbróglio, o qual não impediu no entanto o atual ministro da educação de vir à Guarda lançar a primeira pedra naquilo que se anuncia como a nova residência de estudantes da Ensiguarda.
No discurso de celebração, o senhor ministro afirmou claramente, sem revelar os dados que lhe permitiram dizê-lo, que a escola profissional da Guarda era um exemplo de sucesso. Claro que o senhor ministro não explicou porque é que veio à Guarda visitar uma escola de direito privado e não visitou uma escola pública que fosse.
Tal como é digno de nota que o executivo camarário comandado por Álvaro Amaro tenha concedido 10 mil euros de subsídio à escola da família Raimundo. Quero crer que a aproximação das eleições autárquicas não passa de uma simples e inoportuna coincidência no meio de tudo isto. Tal como há-de ser apenas coincidência a presença de certas pessoas na sessão de lançamento da recandidatura de Álvaro Amaro…
Entretanto, fazendo jus àquele tipo de coisas a que já estamos habituados, enquanto os nossos impostos subsidiam a construção de residências de negócios privados, há jovens do ensino público a terem de pagar os seus transportes numa escolaridade dita obrigatória. Nada que deva espantar-nos ou indignar-nos profundamente. É que a Guarda sempre foi pequenina neste tipo de coisas. Ou antes, como diria a métrica política, sempre foi grande. Grandes interesses, grandes conhecimentos e relacionamentos ainda maiores. Dos grandiosos e paquidérmicos resultados, nem vale a pena falarmos.
Há quem chame nomes muito feios a todas estas misturas entre aquilo que é público e privado. Outros, eufemística ou ideologicamente motivados, chamam-lhe sentido de oportunidade ou empreendedorismo. Eu chamo-lhe simplesmente falta de pudor.
Quando penso em tudo o que se poderia ter feito com os dinheiros públicos desbaratados nos últimos anos, sinto um nó na garganta mais apertado do que os atacadores dos meus sapatos. Creio que não será caso para eu passar a trabalhar de chinelos, mas lá que me apetecia distribuir umas chineladas, isso apetecia.
É confrangedor ver um ministro vir ao beija-mão de um negócio destes, só para mostrar que existe. Ainda o hei-de ver a inaugurar algum parque de estacionamento de uma escola ou coisa de um nível ainda mais baixo. Não seria por acaso.
Diz-nos o latim que qualquer um pode ser ministro, mas muito poucos poderão algum dia ser maestros. De facto, “maestro” provém de magíster (magis = mais), enquanto “ministro” provém de minister (minus = menos). Assim, numa qualquer área de conhecimentos, magíster é sempre a autoridade, enquanto minister é quando muito o seu aprendiz. O que não me recordo de os romanos terem explicado de forma tão clara, é que quando a fome aperta, a vergonha desaparece.
Ou coisa do género.
(Crónica jornal O Interior - 12 de Abril 2017)
segunda-feira, abril 10, 2017
Dias Loureiro e a queijaria.....
O
Dias Loureiro que tem a dizer?
Nada!
Tem
o «direito» a calar-se....
Pois,
como diz o despacho de arquivamento .....«uma engenharia financeira extremamente
complexa, a par de decisões e práticas de gestão que suscitaram suspeitas
sérias sobre os reais fundamentos” por atribuição “de comissões não
justificadas».
«No
despacho de arquivamento, o Ministério Público menciona que a Biometrics era
uma barriga vazia, e que houve saída de fundos da SLN, de cerca de 75 milhões:
31 milhões destinaram-se a liquidar a posição minoritária na Biometrics; 10
milhões a criar uma outra empresa em Porto Rico, a New Tech; 35 milhões a
adquirir e a remunerar as licenças das tecnologias da Biometrics.»
Barriga
bem vazia..... mas cheia de movimentos.... mais um milagre!
Será
milagre para atribuir aos «pastorinhos»?
Mas
os investigadores não conseguiram determinar como foi fechado o circuito e
notam que as cartas rogatórias enviadas para a Suíça e para o Panamá ficaram
sem resposta.
Incompetência.
Factura
do BPN já ultrapassa os três mil milhões de euros!
O
que se sabe é que a intervenção pública leva a perdas de mais de três mil
milhões de euros para os contribuintes.
Quatro
peritos judiciais estão a ser julgados no Tribunal de Coimbra por falsidade de
perícia e abuso de poder.
Segundo
o Ministério Público (MP), os arguidos cometeram os crimes no âmbito de um
processo de expropriação em que assinaram um relatório de avaliação de um
terreno que decalcava um estudo económico-financeiro da parte expropriada, para
a qual três deles também trabalhavam.
Vamos
lá....
Quem
foi que disse que eram só «copos e mulheres«?
Roubos...
pois claro!
Vai uma esmolinha?
Banqueiro
sem dinheiro?...
Rendeiro, o dono do BPP (Banco Privado Português) diz não ter dinheiro para pagar multas...
Argumenta que lhe arrestaram 2,5 milhões de euros....
E quanto o agiota não arrestou aos outros?
Queres ver que vai haver mais um peditórios a favor da .... mulher do soldado desconhecido?...
Paspalhos!
Rendeiro, o dono do BPP (Banco Privado Português) diz não ter dinheiro para pagar multas...
Argumenta que lhe arrestaram 2,5 milhões de euros....
E quanto o agiota não arrestou aos outros?
Queres ver que vai haver mais um peditórios a favor da .... mulher do soldado desconhecido?...
Paspalhos!
quarta-feira, abril 05, 2017
Pnto de vista
Com as eleições
autárquicas já marcadas, eis que começam a surgir as candidaturas no concelho
da Guarda.
No PSD a montanha pariu
um rato. Depois do folhetim da ida de Álvaro Amaro para Coimbra, o filho que
foi desdenhado por lá e parece ser pródigo por cá, à terra voltou. Digno de
nota é o facto de ter regressado sozinho, já que o CDS se desvinculou da
coligação que da última vez lhe deu a vitória.
Talvez por isso, Álvaro
Amaro conseguiu “roubar” à lista de independentes do seu adversário de então,
Virgílio Bento, aquela que é agora a sua candidata a presidente da Assembleia
Municipal da Guarda. E para mandatário, escolheu um militante do CDS, tudo para
fingir que não vai só com os seus. Dizem as más-línguas que com isso Álvaro
Amaro sempre conseguirá mais dois votos, o do tal mandatário e o da respetiva
esposa…
Quanto ao resto, nada de
novo ou coisa parecida. Se muda o director de campanha, o diretor financeiro é
o mesmo. E o mesmo se dirá do coordenador do programa eleitoral, o presidente
do Instituto Politécnico da Guarda, a exemplo do que já aconteceu há quatro
anos. Registe-se a propósito que o executivo camarário acabou recentemente de
atribuir 20 mil euros ao referido Instituto, o que em política só pode
tratar-se de uma inocente coincidência.
Quanto ao PS… bem, na
Rua Francisco dos Prazeres a coisa parece mais aliviada, embora seja quase
unânime que há muito que os prazeres já não moram por lá…
Afastada a hipótese de
Joaquim Carreira, a responsabilidade passou para a concelhia da Guarda. Mas o seu
presidente, João Pedro Borges, terá declinado por motivos profissionais a
possibilidade de ser ele próprio o candidato. Empresário nas áreas da
comunicação, marketing, turismo e eventos, diz não ter disponibilidade
para uma intervenção mais profunda na vida política. Recentemente ganhou, por
exemplo, um contrato com a Rede Regional de Empreendedorismo, no âmbito de um
projecto que envolve o Politécnico da Guarda, o Nerga (Núcleo Empresarial da
Região da Guarda) e as câmaras da Comunidade Intermunicipal das Beiras e Serra
da Estrela, entre outras entidades, projeto esse para o qual a empresa de João
Pedro Borges vai fazer assessoria de comunicação e desenvolver o plano
estratégico de marketing. Estamos a falar de uma prestação de serviços global
de quase 40 mil euros, de acordo com o contrato público assinado no final de
Dezembro, que também deve ser outra coincidência.
Com uma vida
empresarial para desenvolver e salários para pagar, compreende-se assim que o
presidente da concelhia do PS tenha tentado passar a batata quente para António
Saraiva, o presidente da federação distrital. Mas também este se mostrou
indisponível, por motivos pessoais, para concorrer a qualquer Câmara do
distrito.
Outra solução não
restou ao partido que repescar uma velha raposa da política autárquica, Eduardo
Brito, o qual foi obrigado a engolir o que antes havia afirmado acerca de o
candidato à câmara da Guarda dever ser alguém natural da cidade ou alguém a ela
ligado…
As perguntas que se
colocam são, por um lado, “o que foi prometido a Eduardo Brito para que este
aceitasse aquilo que antes renegou”, e por outro, “se em caso de derrota
assumirá a vereação ou se marchará da Guarda tão rapidamente como aqui chegou
para fazer o frete ao partido”?
Das outras candidaturas
ainda se sabe menos, não sendo no entanto de espantar que as contas possam sair
furadas a Álvaro Amaro na sua tentativa de pescar em águas do CDS. Deixo-as por
isso para segundas núpcias.
Mas seja qual for o
resultado, há uma coisa que já é certa: ninguém nos livra de termos a cidade
toda esburacada e enlameada. Pelos vistos, para alguns, se um voto pesa muita
coisa, um estaleiro de obras pesa muitos mais. Sobretudo em ano de eleições.
Muito bom dia para todos.
(Crónica na Rádio F - 3 de Abril 2017)