segunda-feira, agosto 14, 2017

Culto à personalidade, mentiras e bajulações

Os cidadãos da Guarda foram brindados, no final do mês de Julho, do corrente ano, com mais uma preciosidade do executivo camarário – o Boletim Municipal.
Os carteiros lá transportam para cada caixa de correio, do cidadão da Guarda, a «voz do dono»! Gostava de saber se não haverá por aí uma perversão do direito a não receber publicidade. É que o «boletim municipal» configura um panfleto de publicidade, ainda por cima enganosa. Desde logo não é indicado o número de exemplares do mesmo. Depois falta a indicação da sua periodicidade. Grave, muito grave! Os «doutos» senhores percebem pouco ou nada de informação o que não se estranha dada o seu fraco desempenho a nível nacional. O «boletim» é o exemplo acabado do culto da personalidade. O culto de personalidade ou culto à personalidade é uma estratégia de propaganda política baseada na exaltação das virtudes - reais e/ou supostas - do governante, bem como da divulgação positivista da sua figura. Não se julgue, no entanto, que os cultos de personalidade são apenas encontrados em ditaduras. Nada disso! Já fazem o seu percurso, com resultados bem apoteóticos, nas democracias.

O culto inclui cartazes gigantescos com frases bombásticas que procuram traduzir obra e, bem como a sua constante bajulação por parte de certos meios de comunicação e muitas vezes perseguição aos que se recusam a aceitar tamanha patranha. O «boletim» municipal da Guarda, número 2, cuja publicação custou aos contribuintes, segundo consta do portal BASE – contratos públicos, a módica quantia de 10 500€ mais IVA, é o paradigma do culto à personalidade do presidente da câmara. Desde a primeira até à última página, em papel de altíssima qualidade, fotografias a cores, tudo é presunção, água benta e muita, mas mesmo muita, gabarrice. Tudo isto para demonstrar a vaidade de quem manda e a quem devemos obediência. Devemos? Talvez que alguém deva! A grande maioria do povo do concelho da Guarda não deve nada… paga para ver! Os enfeites apresentados querem fazer esquecer que a Guarda perdeu população; que a Guarda perdeu alunos no pré-escolar, ensino básico e ensino secundário, mais de 2 000 alunos de 2001 até 2016; o número per capita de médicos e farmacêuticos diminuiu; baixou o número de contribuintes para a Segurança Social; aumentaram os apoios da Segurança Social e, apesar dos milhões anunciados, para criar empregos, o desemprego aumenta! Quanto a Hotel Turismo, NADA! Quanto ao ambiente nem falar do abate de árvores, do estado deplorável de parques e zonas de lazer e aprendizagem lúdica o que é tudo, menos uma cidade que educa. Como culminar aí temos uma taxa de abstenção, em eleições autárquicas, das mais elevadas a nível nacional. Todos estes dados, e bem assim como outros, estão disponíveis no PORDATA e não em nenhum «boletim». Tudo isto é prova de que pouco se pode fazer contra a vaidade humana que, mesmo em tempos republicanos e democráticos, insistem em práticas ditatoriais. Não sabem que a História é feita pelos povos. O tempo de reis, rainhas, marquesas, viscondes e em particular bobos terminou. 
Não sabem!

(Crónica no jornal O Interior - 9 de Agosto 2017)