sexta-feira, fevereiro 17, 2017


A Ingenuidade, o Ridículo, a Política e coisas que tais

Foi recentemente promulgado pelo presidente da República um diploma que obriga à substituição das administrações das ULS em todo o país. Assim que o diploma for publicado, os homens de Álvaro Amaro no nosso hospital entram em gestão corrente.

Desconhecem-se pormenores sobre os diversos aspetos da nomeação, composição e funcionamento da próxima administração impostos pela nova lei. Impera por isso a boateira, que é aquela doença que assola ciclicamente a Guarda em alturas destas, apimentada por algum pânico entre os boys do partido e diretamente proporcional na sua intensidade à ignorância das pessoas sobre o tema em questão. Uma vez que a futurologia não é a minha especialidade, e enquanto aguardamos, detenhamo-nos um pouco sobre aquilo que foi a obra da proximamente defunta administração hospitalar.

Recordo que esta administração nasceu de uma outra cujo presidente se veio a descobrir ter sido condenado por crimes de abuso de confiança fiscal. De facto, o então ministro da Saúde optou por “transferir” discretamente Vasco Lino para a Covilhã, mantendo em funções o resto do órgão gestionário, que passou a ser chefiado por Carlos Rodrigues, o mordomo de Álvaro Amaro para a maior empresa do distrito da Guarda.

Com esta decisão meio atabalhoada da tutela, transitaram para os próximos capítulos os vários erros e dossiers emblemáticos da mediocridade, incompetência e falta de visão estratégica das administrações que nos últimos anos devastaram em crescendo o nosso hospital. Como guardense e utente da instituição, muito poderia aqui dizer sobre o assunto. Mas como o espaço é curto, limitar-me-ei a aludir aos mais mediáticos, de que é exemplo o da cirurgia, o tal serviço que esteve durante anos sem diretor nomeado e que depois teve um diretor ilegal que teve de ser corrido para o Porto, para por fim voltar a ter como diretor o médico que afundou o serviço aos olhos da própria Ordem dos Médicos. Ou a radiologia, que há muitos anos não só não tem diretor como não tem médicos, mas que em compensação se descobriu ter radiação quanto baste e estar a funcionar ilegalmente…

Numa república que não fosse das bananas, toda esta incompetência teria sido há muito premiada com um bilhete de comboio para as Caldas da Rainha, local de origem do homem que Álvaro Amaro trouxe para cá. Mas como a Guarda está para o país como uma sala de chuto está para a realidade, o governo da geringonça foi mantendo toda esta gente no cargo, vá-se lá saber porquê, talvez como que a querer dizer que a Guarda não merece ser salva porque há pecados que nem sequer merecem redenção.

Álvaro Amaro, que tem mais esperteza política num dedo do que os socialistas locais têm no corpo todo, assistiu a tudo isto, ao princípio com preocupação pelos danos potenciais, mas depois com gáudio perante a ingenuidade e inoperância socialistas, qual avançado de futebol a quem o defesa da equipa contrária passa involuntariamente uma bola que só tem depois de empurrar para dentro da baliza.

Da próxima administração espera-se que não cometa o mesmo tipo de erros daquela que está de saída, de que é exemplo a folclórica nomeação para uma direção de serviço, já em período de velório, de uma médica que já esteve envolvida num escândalo sobre horas extraordinárias e que, tendo reprovado num exame da sua especialidade, foi agora nomeada, e cito, por reunir “as competências necessárias para exercer tal cargo” e ter “a confiança técnica da administração” para a “implementação de uma nova política de gestão que se traduza numa maior eficiência e eficácia”…

O ridículo diverte-nos, mas às vezes também mata. Nem que seja o sentido do decoro. Álvaro Amaro, estrategicamente caladinho perante tudo isto, não perdoará erros destes a quem aí venha. Ele sabe melhor do que ninguém que se a ingenuidade é um modo de se ser inocente, a infantilidade é um modo de se ser idiota. E que isso, em política, faz toda a diferença… Até na Guarda!
 
(Crónica no jornal "O Interior" - 8 de Fevereiro de 2017)