domingo, outubro 09, 2016

Gostei de ler

As minhas recentes caminhadas no Estádio Universitário, na companhia de um amigo, fizeram-me esbarrar nas já muito discutidas praxes, nos caloiros áulicos e “senhores” veteranos, quais servos bajuladores perante os seus todo- -poderosos. E, confesso, é algo que me perturba, que não é capaz de me deixar indiferente desde os meus tempos de faculdade. Sou objetivamente (sempre fui) contra as ditas, porque considero fundamental para o nosso crescimento no início desse percurso académico que existam formas de integração criativas, brincadeiras construtivas e desafiantes e métodos para estimular a união e o companheirismo, e não o contrário.
Neste momento, aquilo que os estudantes (alguns) fazem é construir aquilo que não conseguiram através da sua capacidade intelectual: assumir a liderança e serem reconhecidos como mentores e exemplos a seguir. Então assumem o papel, pela primeira vez na vida, usando a força, a humilhação e a defesa de princípios errados que vão passando de geração em geração e nos vão moldando negativamente também. Figurinhas bisonhas e tristes do nosso firmamento, na senda do miserabilismo nacional.
E é vê-los ali, altivos e prepotentes dentro da sua nova pele, uma capa e batina que, aliás, sempre me recusei a usar, fazendo figuras ridículas e usando as suas múltiplas matrículas sempre a chumbar para se sentirem verdadeiramente importantes quando o mundo lá fora não lhes dá crédito absolutamente nenhum. Mas não deveriam os alunos estimular os melhores? Não só os que têm melhores notas, mas os mais solidários, os simpáticos, os criativos e os especialistas em alguma coisa? Estamos nós a privilegiar quem chumba? Os parasitas e idiotas que vivem à conta da educação do país e dos que trabalham, nomeadamente os seus pais? 
Sou a favor da meritocracia. Sempre fui, aliás. Acho que todos devem ter acesso às mesmas oportunidades e, depois, defendo que os melhores devem ser, de facto, reconhecidos e elogiados. Tenho para mim (se calhar é defeito meu) que ao invés de querermos acabar com a riqueza nos devíamos focar em acabar com a pobreza. Esse princípio de querermos ser melhores, líderes e populares, essa vontade que temos de preencher o ego constantemente tem de ser acompanhada por uma filosofia de vida que nos permita chegar lá pelas razões certas e sermos reconhecidos por sermos os melhores, e não os piores.
Nunca fui praxado e nunca praxei. Nunca toquei cavaquinho na tuna nem dei mortais com guizos na mão. Percebo perfeitamente esse chamado espírito académico, mas o meu sempre foi preenchido de outras formas. Não deixei de o viver, simplesmente dava importância a outras atividades. Cada um é livre de tomar as suas opções. Acho, no entanto, que chamar nomes estúpidos aos que se iniciam, pintar uma pessoa, obrigá-la a fazer vários exercícios como levantar pedras ou mandar pedras a outros, ver miúdas a chorar com receio, isto não é integração - e se é para isso, que se acabe rapidamente. Na maioria dos países desenvolvidos, a Semana do Caloiro é uma receção de boas-vindas com jogos, festas temáticas, concursos, leituras de poesia, grupos de teatro e desporto. Por cá, continuamos a desrespeitar física e intelectualmente os alunos. 
As diferenças começam aqui...