quinta-feira, junho 23, 2016

(Re)Lendo


Lá na Ribeira Nova

onde nasce Lisboa inteira

na manhã de cada dia

há uma varina

e se não fosse ela

ai não sei

não sei que seria de mim!

Por ela

fiz dois versos a todas as varinas:

E vós varinas que sabeis a sal

e trazeis o mar no vosso avental!

Acho parecidos estes versos

com as varinas de Portugal.

 

Uma vez falei-lhe

para ouvi-la

e vê-la

ao pé.

A voz saborosa

os olhos de variar

castanhos de variar

castanhos-escuros de variar

com reflexos de variar

desde a rosa

até ao verde

desde o verde

até ao mar.

 

Num reflexo reflecti:

não dar aquele destino

ao meu destino aqui.

 

     Escrito em  1926

     Inédito

  

José de Almada Negreiros

poesia

estampa

1971