sexta-feira, dezembro 11, 2015

Mafiosos ou apenas incompetentes?

O hospital da Guarda tem sido daquelas instituições em que as coisas parecem correr sempre mal. Desde as frequentes e patéticas perseguições a médicos, às duradouras dúvidas sobre a permanência do serviço de maternidade na nossa cidade, tudo tem servido para fabricar notícias.
Ele foram os gastos exorbitantes por parte de certas administrações, a discussão em torno de um hospital novo ou de um novo hospital, a nomeação do marido de uma presidente da administração em condições no mínimo ridículas, as condenações criminais de mais do que um presidente, a imparável degradação e esvaziamento de serviços de que é caso emblemático a Cirurgia, o desaparecimento misterioso da ampola de hélio do aparelho de ressonância magnética, as obras do novo pavilhão com acusações de gastos a mais e a menos, enfim, um interminável rol de horrores e de azares a fazer crer que a nossa cidade é realmente vítima de uma qualquer maldição que ninguém consegue explicar.
Agora saiu-nos na rifa o serviço de pneumologia. Conseguiram que deixasse de funcionar o único e velhinho aparelho de broncofibroscopia! Só para que se entenda a gravidade da situação, trata-se de um equipamento que permite, por exemplo, proceder à recolha direta de tecido para alcançar o diagnóstico correto de tumores. É um pouco como se tivesse deixado de funcionar o último avião de uma companhia aérea…
Nem pergunto como foi possível chegar-se a esta situação. Não vale a pena! Recordo-me de há muitos anos um médico se ter sentido compelido a comprar, do próprio bolso, dezenas de milhares de euros de equipamentos para o seu serviço não fechar. Isso dá bem uma ideia do que vai naquela casa e dos limites a que por vezes se chega.
O hospital da Guarda tem sido o campo de manobra dos interesses partidários locais. Tratando-se da maior empresa do distrito, ainda por cima pública, percebe-se o apetite para o nepotismo que por ali grassa, enrolado num esquema de favores e de obscuras negociatas. O hospital tem sido a mãe de todos os desenrascanços para qualquer político aflito. O resto pouco interessa, desde que não estoire na comunicação social.
Uma vez que já percebemos como se chega a este tipo de situações, a dúvida que fica é se isto algum dia terá fim. “Já não há indignação espontânea, que é a boa, a verdadeira indignação. Existe uma doença do espírito: o mal da indiferença cívica. Todos estamos moralmente doentes”. Esta última frase não é minha. É de José Saramago.

Por isso, ou acabamos com certo tipo de gente, ou então quem um dia acaba mesmo é o nosso hospital... E sem nós quase darmos por isso. Olé!

(Crónica no jornal O Interior - 10 de dezembro 2015)