domingo, outubro 18, 2015

Hipocrisias, vendedores de ilusões e mordomias.

Terminou o circo. Palhaços, trapezistas e outros artistas de variedades fizeram o seu número. Uns com resultados que os guindaram ao lugar, sempre apetecível, de privilegiados de uma sociedade. Outros ficaram-se pelo caminho, sem apelo nem agravo, sem direito a um lugar ao sol…
E depois da «alegre campanha» com beijos, abraços e bacalhaus a rodos eis o dia da reflexão. Talvez retiro fosse o termo mais apropriado para o momento. Reflexão exigia-se que fosse feita muito antes. Desde logo que se desse a possibilidade a quaisquer grupos de cidadãos concorrerem a lugares no parlamento. A democracia só teria a ganhar. Maior e melhor participação cidadã e com a consequente descida da taxa de abstenção, que continua a aumentar, a cada acto eleitoral. Depois, acabar-se-ia de uma vez por todas com esta partidocracia e parasitagem de lugares que é vista aos olhos do cidadão como uma forma de pagar promessas e, principalmente favores. Mas, um e outro entroncam-se no despesismo que os contribuintes têm de suportar. Pois é… ninguém abdica das mordomias pagas aos partidos que conseguem os ansiados e desejosos 50 mil eleitores. A partir desta fasquia, cada voto do eleitor «vale» 2,84€! Chamam-lhe de … subvenção! O que quer dizer subsídio, auxílio pecuniário… interessante, muito interessante! Os desempregados sem subsídio! Os estudantes, os que frequentam o 10.º, 11.º e 12.º ano são obrigados a pagar os transportes escolares, quando se diz que a escolaridade é obrigatória até ao 12.º ano! Mas, há mais e muito mais! Falta tudo neste país e, os mesmos que se arvoram em bastiões e defensores dos direitos roubados e perdidos, são os mesmos que não abdicam das mordomias. Hipocrisia quanto baste! Só para se ter uma ideia do regabofe que por aí vai, dizer que a distribuição do bolo será assim feita: coligação de direita Portugal à Frente vai receber 5,62 milhões de euros por ano, o Partido Socialista 4,942 milhões de euros, o Bloco de Esquerda 1,56 milhões e a CDU 1,26 milhões! A festança para a boa pança! Mas, para além deste «subsídio» os partidos, que concorrem a pelo menos 51% dos lugares a sufrágio e obtenham alguma representação, podem «candidatar-se» a mais uma «subvenção» eleitoral para… pagar despesas de campanha! O «bolo» tem um valor de 6,816 milhões de euros. Desse bolo, 1,363 milhões são «dados» aos partidos que concorrem a mais de 51% dos lugares a sufrágio e o restante distribuído pelos partidos que elegeram deputados, num cálculo proporcional… Mas, quem julgava que a boda acaba aqui, desengane-se…há mais e muito mais! Há a subvenção calculada por cada deputado que engloba uma verba para encargos com assessores, actividade política e partidária e… outras despesas de funcionamento que corresponde na prática a que cada grupo parlamentar receba por base qualquer coisa como 20 122 euros, a que acrescem mais 209,61 euros por cada deputado. É importante dizer que o Tribunal Constitucional já considerou esta subvenção formalmente inconstitucional, porém, a Assembleia da República continua a fazer orelhas mocas e paga-a…
Quando ouvir falar em Tribunal Constitucional, a certos figurantes, lembre-se deste pormenor…
Para além de tudo isto, referir que ao fim de 8 anos um deputado pode pedir a reforma … e que reforma! São os deputados que se autopromovem e determinam os respectivos vencimentos, participações nas «comissões» e outras sessões…que falsificam presenças… que têm mordomias para tudo e mais alguma coisa… 
Assim se explica um dos motivos pelo qual a partidocracia quer esgotar o exercício da democracia à parasitagem de certa «carneirada» política!  
Copia-se tanta coisa do estrangeiro e não há coragem para acabar com mordomias que lá por fora, em países bem mais ricos do que o nosso, já há muito que não se praticam. Mas isso é para quem a cidadania e a responsabilidade de ser eleito é muito mais que parasitagem e pastagem!

(Crónica publicada no jornal O Interior, dia 15 de Outubro de 2015)