sábado, julho 25, 2015

(Re)Lendo


O futuro
 
Aos domingos, iremos ao jardim.

Entediados, em grupos familiares,

Aos pares,

Dando-nos ares

De pessoas invulgares,

Aos domingos iremos ao jardim.

Diremos, nos encontros casuais

Com outros clãs iguais,

Banalidades rituais,

Fundamentais.

Autómatos afins,

Misto de serafins

Sociais

E de standartizados mandarins,

Teremos preconceitos e pruridos,

Produtos recebidos

Na herança

De certos caracteres adquiridos.

Falaremos do tempo,

Do que foi, do que já houve...

E sendo já então

Por tradição

E formação

Antiburgueses

- Solidamente antiburgueses -,

Inquietos falaremos

Da tormenta que passa

E seus desvários

 

Seremos aos domingos, no jardim,

Reaccionários.

 

Reinaldo Ferreira, Nunca mais é sábado - Antologia de Poesia Moçambicana, 

org. e prefácio de Nelson Saúte, ed. Dom Quixote, p. 120