sábado, abril 04, 2015

Poema para quem ousou dizer NÃO

No dia em que mataram o activista Martin Luther king, lembro este poema.

Poema “Lágrima de preta” de António Gedeão
Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.

Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.

Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente. 

Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.

Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume: 
nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.