quarta-feira, março 25, 2015

Lucrécio o poeta maldito


Já está nos escaparates a obra fundadora da cultura ocidental, o poema filosófico "Da Natureza das Coisas" de Lucrécio.
A obra agora lançada, pela Relógio d'Água, tem esta particularidade, desde o séc. XIX que não havia em Portugal uma tradução do texto de Lucrécio.
Lucrécio influenciou escritores como Virginia Woolf, Daniel Defoe, Camus e Michel Houellebecq.
A obra “Da Natureza das Coisas” é, segundo o escritor e psicólogo Vasco Luís Curado, determinante “pela sobriedade que nos salva de tanto lixo literário e da ditadura dos bestsellers”. Ainda segundo o escritor e psicólogo, o que “impressiona é o facto de Lucrécio ter a coragem de abdicar dos deuses e das religiões e guiar o leitor numa penetração científica dos fenómenos naturais: a vida, a morte, a matéria, o vazio, a terra, os astros, os átomos, os elementos, a consciência, os sentidos, o amor, a linguagem. Se a religião oficial escraviza, o conhecimento liberta. É o triunfo de um espírito que tem a coragem de investigar o Universo só armado das suas próprias forças intelectuais e racionais.”
A ideia do simulacro, ou das imagens que se libertam das coisas e alimentam as nossas fantasmagorias internas, nunca foi tão omnipresente como na nossa modernidade tecnológica, onde estamos progressivamente a abandonar a nossa relação com o real e a viver dentro de múltiplos simulacros incessantemente produzidos pela publicidade, pela televisão, pela política, pela internet.
Para o professor Luís Manuel Gaspar Cerqueira, Lucrécio é Lavoisier antes de Lavoisier, Einstein antes de Einstein, Voltaire antes de Voltaire e, é também, Freud antes de Freud, Baudrillard antes de Baudrillard.
Lucrécio, o poeta louco fundador da modernidade escreveu: “Portanto nenhuma coisa regressa ao nada,/
mas todas regressam por desagregação aos átomos da matéria.
(…) Portanto não perece completamente tudo aquilo que parece morrer,/porque a natureza forma de novo uma coisa a partir de outra,/e não permite que nada seja (Livro I).

Lucrécio pretende situar o homem no todo do Cosmos, colocando em evidência o seu carácter contingente, as suas relações de interdependência com tudo o que o rodeia. Lucrécio volta a colocar o problema crucial: qual o lugar do Humano no mundo?”.
A principal originalidade introduzida por Lucrécio, relativamente aos seus mestres, é a ideia de que os átomos não têm trajectos fixos mas sim desvios aleatórios, e que o cosmos é portanto feito de caos, abrindo a porta ao pensamento sobre a vida individual e a forma como ela é constituída por conexões imponderáveis, pelo acaso. Daí que só o controlo das paixões da alma e do corpo, a paz de espírito e a busca do conhecimento possam levar o Humano a uma compreensão de si e dos outros.
Face a tudo isto quem pode ficar indiferente à obra de Lucrécio? Quem pode ficar sem ler “Da Natureza das Coisas”? Quem?
A minha curiosidade é ENORME!
Já tenho leitura obrigatória!