segunda-feira, janeiro 12, 2015

Ponto de Vista

Hoje seria politicamente correto falar dos atentados de França. Mas não o vou fazer por uma simples razão. O que aconteceu em França ocorre, há décadas, um pouco por todo o mundo. E nessas alturas por onde andou a indignação, onde ocorreram as manifestações, onde esteve a imprensa? E como agora até há tantos a falar do assunto, prefiro tratar de outra coisa.
Mas, apesar de tudo deixo-vos uma reflexão. Será que depois da austeridade económica e financeira que alguns europeus sofreram vem aí um aperto às liberdades dos cidadãos? É que tudo parece indicar que tal vai acontecer. Pretexto já o têm, os mandantes.
Vou por isso falar novamente do nosso hospital. O tal que mereceu uma requalificação apressada e mal-amanhada e que propagandisticamente foi apelidado de novo. Parece que os problemas são afinal mais do que muitos, o que prova que não são as paredes que fazem um hospital.
Os pavilhões antigos, já parcialmente desocupados, continuam a degradar-se e a demonstrar a forma leviana como os poderes instalados olham para os nossos edifícios públicos.
A solução encontrada para o estacionamento entronca na situação destes antigos pavilhões, onde continuam a funcionar diversos serviços, criando novos problemas. De facto, numa cidade em que os transportes públicos não chegam ao hospital, para além de agora os utentes terem de pagar um estacionamento calibrado ao preço do ouro, só conseguem aceder a esses pavilhões através do chamado novo edifício e passando pela rua que separa o velho do novo. Mete dó ver pessoas idosas, com enormes dificuldades de mobilidade, terem de se submeter ao clima do dia e a diversos obstáculos à sua locomoção, só para conseguirem chegar ao seu destino.
Mas esses nem são os maiores problemas. Como é do conhecimento público, um dos membros da administração apresentou há alguns meses o seu pedido de demissão, o que é normalmente sinal de grandes perturbações. Por outro lado, terminou em dezembro a comissão de serviço da administração, mas a mesma mantém-se em funções. Dizem as más-línguas que o problema reside na dificuldade em preencher todos os cargos. Isso significa que a Guarda se arrisca, mais uma vez, em desespero, a levar com refugo. Algo a que já nos habituámos. Basta olhar para a administração atual, envolvida em escândalos e coisas do género, para perceber do que falo.
O que faz um hospital são as pessoas e quem as lidera. O exemplo que está em vias de cessar deveria fazer-nos refletir na degradação da qualidade dos nossos gestores. Primeiro foi Fernando Girão, tornado famoso por ter instaurado dezenas de processos a médicos e a outros funcionários, alguns dos quais ficarão para a história como campeões do ridículo, conseguindo no final ser condenado por nada mais, nada menos, que cinco crimes!
Depois foi Ana Manso, cujo único mérito é o de ter a certeza que nunca baterá o record das condenações criminais de que foi alvo o seu antecessor. Mas, desde a novela de ter favorecido o marido, até ao mais recente escândalo do recebimento ilegal de dinheiros públicos, ficou um travo a dejá vu. Acabou-se-lhe a carreira, mas pelos vistos não a vontade…
A seguir foi Vasco Lino, um indivíduo com um passado de condenações criminais que conseguiu esconder até à tutela. A sua gestão foi um desastre e vai demorar anos a reparar os estragos que por cá causou. Há serviços em autêntica desagregação e uma indefinição total em relação àquilo que será o futuro do nosso hospital no contexto da Beira Interior. A boateira sobre fusões, anexações, extinções e outras cessações continua, e Vasco Lino, a braços com os seus próprios problemas, nada tem para dizer.
É por isso um milagre que tenha dado à costa um denominado “prémio de excelência”, atribuído pela ERS ao nosso hospital, ao melhor estilo das sociedades amigáveis de palmadinhas nas costas. Já não sei se estes prémios servem para a ERS justificar a sua própria existência, ou se servem apenas para propaganda do regime, destinada a tapar o sol com a peneira.

A generalidade dos profissionais com quem falei, riu-se. Eu, fiquei triste. É que, passado o Natal, voltou-me a melancolia e um pressentimento de que não vem aí nada de bom. Que é coisa já normal na Guarda. Como diz o povo, gato escaldado de água fria tem medo! 
Muito bom dia a todos… 

(Crónica na Rádio F - 12 de Janeiro de 2015)