quarta-feira, maio 21, 2014

Ponto de vista

Hoje a normal azáfama das escolas públicas vai ser interrompida pela realização, a nível nacional, do exame de português do 4.º ano de escolaridade, na parte da manhã, e do exame do 6.º ano, na parte da tarde. Os alunos dos outros graus de ensino vão ficar em casa. Este facto levou a Confederação Nacional Independente de Associações de Pais e Encarregados de Educação a considerar como uma inadmissível forma de chantagem o facto de no último dia útil antes dos exames os seus associados terem recebido pedidos de pareceres favoráveis ao encerramento das escolas para os alunos dos outros anos de ensino.
Fecham-se as escolas, obrigando toda a gente a aceitar a excecionalidade da situação. Acrescente-se que na próxima quarta-feira o cenário vai repetir-se, agora para os exames de Matemática dos mesmos anos de escolaridade. Por isso não estranha que a confusão seja total e que os pais dos alunos que não vão a exame desesperem sobre a forma de ocuparem o dia dos seus filhos.
Esta é a consequência imediata da realização de exames em período lectivo. Uma, mais uma, asinina decisão de um governo que, como em tantas outras coisas, tem andado aos papéis. A narrativa que se vai construindo a propósito dos exames dos 4º e 6º anos do Básico mostra, mais uma vez, o absurdo entendimento daquilo que significa a palavra normalidade para a equipa da 5 de Outubro.
Mas há mais. Por exemplo, os alunos do 4.º ano do ensino público são obrigados a deslocarem-se a outras escolas para a realização dos ditos exames. Já os alunos do privado, manter-se-ão nas suas escolas. A isto chama-se descriminação negativa. Mais uma vez para este governo há cidadãos e súbditos. Não satisfeito com esta confusão dos exames, o ministro da Educação, Nuno Crato, integrado na visita de Cavaco Silva à China, anunciou por lá uma grande notícia. Aguçaram-se os espíritos e …ei-los confrontados com o ensino do mandarim como disciplina opcional nos currículos do 3º ciclo e do ensino secundário. Está certo, depois da deriva do ensino de inglês no 1º ciclo, surge agora o mandarim no 3º ciclo e secundário.
A alguns menos avisados e até a alguns conservadores maledicentes que entendem que os problemas em matéria de currículo no sistema educativo português são bastante mais importantes e urgentes do que o ensino do mandarim, a “grande notícia” pode levá-los a pensar, mais uma vez, que a montanha pariu um Crato.
Mas estão errados, a decisão é, como sempre, genial. Como sabem, o ensino do mandarim está em alta, existindo já uma oferta significativa para crianças, sobretudo no ensino particular, sempre muito atento ao mercado. Aliás, alguns pais ouvidos em trabalhos da imprensa referem o impacto e importância futura que pode ter para as suas criancinhas o ensino do mandarim.
Adicionalmente, o programa de privatizações que tem vindo a ser seguido autoriza esta ideia e consta até que Eduardo Catroga, António Mexia e mais uns quantos também frequentam aulas de mandarim. Neste movimento de aproximação ao mandarim deve destacar-se o esforço visionário da autarquia de  S. João da Madeira, que já há algum tempo proporciona o ensino dessa língua em todas as escolas do 1º ciclo e tem como objectivo estender o seu ensino até ao 12º ano.
Quem sabe se a ideia não chega à câmara da Guarda. Esqueçam a importância do inglês, do francês ou do alemão, ferramentas antiquadas e inúteis. O nosso futuro passa pelo maior mercado da humanidade, a ida de milhares de portugueses para a China e a vinda de milhões de chineses para Portugal, com os vistos Gold carregados de dinheiro, com ou sem mandatos da Interpol. Uma verdadeira chinesice!
Com tanta trapalhada ministerial e negócios da china que se avizinham, já me estou a ver com os olhos em bico!
Tenham um bom dia.

(Crónica na Rádio F - 19 de maio de 2014)