sábado, novembro 06, 2010

Quem disse, candidato?

«Manuel Alegre não apoia nem deixa de apoiar a greve geral!!!»
Alegre mostrou-se cauteloso em relação à greve geral de 24 de Novembro, convocada pela CGTP e UGT. Se é verdade que evitou colocar-se ao lado das intersindicais, não deixou de assumir a relevância que a paralisação tinha: "Não tenho que apoiar ou não apoiar. Eu sou um candidato à Presidência da República, que está nestas eleições com um sentido de responsabilidade. Não cabe a um candidato à Presidência da República estar a fazer ou não apelos à greve", disse, após o encontro com a direcção da CGTP.
Que faz um presidente da república, em Portugal???
Rainha de Inglaterra??? NÃO OBRIGADO!!!!
«Que fez aquela oposição que bradava em nome dos homens e dos factos? Nada.
Fez com as suas declamações o túmulo do seu silêncio.
Hoje resignam-se à passividade política, e aguçam os seus talentos nas dificuldades domésticas dos arranjos de casa.
Da sua ferocidade apenas lhes ficou a atitude dramática.
A alma, o espírito voou.
Alguns há que andam em redor do orçamento, disposto como uma mesa abundante e generosa.
Enquanto lhes não oferecem um convívio na deglutição das iguarias, andam em redor, clamando, protestando pela liberdade, atirando com o gesto violento às faces ministeriais os farrapos da deusa «Igualdade», trazendo o Evangelho no bolso como documento, etc. ; depois se lhes acenam que se assentem e que digiram, vêem ainda ruidosos e resistentes, aproximam-se, lançam um olhar ávido, tartamudeiam, sentam-se, absorvem, e daí a pouco, exaltam, em linguagem felpuda a constância dos ministérios em permanecer no caminho da justiça, etc., apesar dos esforços da indouta oposição, que os querem maleficamente transviar, etc., etc.
Ora enquanto assim procede a oposição dita de «oficial», nasce uma outra oposição, a verdadeira, a santa, a que frutificará e salvará.
É a oposição popular e democrática.
E esta oposição é feita dos descontentamentos dos povos a quem se tirou o direito ao trabalho e, do povo a quem se tirou o pão.
Os descontentamentos estão crescidos, acumulados, concentrados e, além disso, irritados pelo desprezo, pela desconsideração, pelo egoísmo político, pelo impudor dos poderes.
Esta oposição sim: tem uma ideia, a liberdade; um fim, a prosperidade; um meio, o trabalho.
Por esta sim, que é necessário, sofrer as injustiças dos prepotentes e as afrontas dos maus.
Porque esta oposição envolve toda a sorte do país e todo o futuro da história.
Não pela outra, pela oposição oficial e especuladora, pela oposição aparatosa e nefasta!
Essa, vive na intimidade das secretarias e colabora na vida política da nação.
É uma necessidade dita repetidamente constitucional, concordata, mansa, abusivamente feita de cortesias, de salamaleques e punhos de renda. Às vezes é decretada e constituída pelo próprio ministério.
A filosofia donde ela resulta, que quando um governo não tenha oposição, isto é, seja tão bom que não sofra resistência, tão livre que não suscite reclamações, tão próspero que não prejudique as individualidades; quer o sistema constitucional que este governo assim magnífico, discreto e ubérrimo, não possa substituir: por quê?
Diz a filosofia: que os governos nimiamente bons são péssimos. Em virtude desta regra sábia e prudente, é necessário que haja sempre uma oposição. Quando não puder sair do país, arranja-a o governo entre a maioria.
É assim que nos governamos há muitos anos.
Começa a espalhar-se o boato de que, somos um país livre.
Se a liberdade é o impudor, a libertinagem, a ausência de polícia, a corrupção, a leviandade, o desleixo impune, a indiferença das autoridades, então somos realmente livres, porque gozamos em alta escala destas proveitosíssimas qualidades.
Se porém a liberdade, é a divisão racional, é o respeito pela dignidade e, se é a abundância das classes pobres, se é a igual repartição do tributo, se é harmonia económica, se é a severidade dos tribunais, se é a simplicidade de administração, se é a paz desarmada, se é a extinção da reacção, da adoração estulta do dogma, se é a abolição do dispendiosos fausto cortesão, se é a virtude, se é a vida, somos nós porventura livres?
O povo inteiro que o diga, do norte ao sul do país.»
Texto adaptado das Prosas esquecidas, vol. IV de Eça de Queiroz.