sábado, setembro 11, 2010

Incêndios & Incendiários

O Verão de 2010 ficará, indubitavelmente, marcado pelos incêndios e pelos incendiários.
Em cada verão, desde os últimos trinta e seis anos, que as notícias são mais e mais do mesmo: incêndios, desolação, perda de vidas humanas e cada vez mais um país desflorestado e abandonado. Cenário apocalíptico.
E, invariavelmente, lá vem um ministro «pronto-socorro» repetir o mesmo de sempre. Que a culpa é dos particulares que não limpam os terrenos, verdade!! Só que, esquece-se o «iluminado» que o Estado, as autarquias são também elas culpadas na falta de limpeza dos terrenos. Quantos terrenos pertencentes aos vários estados estão por limpar? Não é necessário sequer sair da Guarda, existem vários locais, ditos públicos, que não são limpos. Mais, existe até um circuito que, supostamente seria de manutenção, na avenida Mendes do Carmo que é o exemplo paradigmático do que se acabou de referir. Finalmente, depois da denúncia feita num blog, o executivo camarário iniciou a limpeza do espaço. Iniciou ainda e tão só, uma parte. Talvez, para o fim do inverno a limpeza do espaço fique feita. Restam os outros e, não são poucos, espaços por limpar. Não há dúvidas, ao contrário do que anunciam, afinal sempre lêem os blogs.
A ter aplicação o que o ministro da Agricultura disse sobre os terrenos que os proprietários não limpam, que seriam nacionalizados, que medida ou medidas previa o douto senhor para os terrenos que sendo do estado o próprio não os limpa? Nacionalizar?
Com políticos destes percebe-se a razão da situação do país.
Não percebem, os ditos ministros, que a situação da limpeza dos terrenos tem a ver com o despovoamento de vasta zona do território. Tem a ver com os parcos recursos económicos, dos seus legítimos proprietários, que com as reformas de miséria não conseguem pagar a quem possa limpar tais terrenos. E, não sabem, ou ignoram saber que o despovoamento acentuado deve-se à falta de uma política de desenvolvimento regional, nomeadamente, na fixação das populações, vide o encerramento do elevado número de escolas.
Mas, com o problema dos incêndios falou-se na necessidade de utilizar o gado caprino para a limpeza dos terrenos. Só que, mais uma vez, a medida vem tarde. Onde estão as pessoas para cuidar do gado? Ou será que, finalmente, iremos ver cumprida uma promessa de Sócrates sobre o desemprego. Ou seja, a recuperação dos tão anunciados 150 000 empregos e, logo no interior. Pena é que se fale de cabras e não de empregos para pessoas.
Pois é!!
Mas depois dos incêndios importava que os governantes tivessem a coragem de apoiar, condignamente, todos quantos sofreram com os incêndios.
Nas visitas que o ministro da Agricultura vai fazendo pelas áreas ardidas, não faltam as palmadinhas nas costas dos agricultores e, pior, a garantia solene que haverá apoios para a subsistência do gado e as indemnizações.
Solenemente promete. Só que diz haverá, só não diz é quando.
Os agricultores da zona do Sabugal ainda esperam e, desesperam pelas ajudas prometidas no ano passado.
Haverá apoios, dizem. Mas, com a mesma desfaçatez com que anunciam tais apoios fazem, de imediato, publicar um despacho onde revela que não há qualquer garantia de que essas ajudas cheguem aos agricultores afectados, pela eventual insuficiência orçamental.
Então, a ser assim, sejam honestos e falem verdade. Digam a verdade e não mintam. Fartos de promessas não cumpridas estamos todos.
Se a agricultura fosse um banco já estava salva, com toda a certeza!!!
E, nós por cá…..mal.
Ficou-se a saber que mais uma vez a verdade vem sempre a ser conhecida. Que os comunicados do executivo camarário a justificarem a sua inércia e inépcia face ao despedimento colectivo e consequente encerramento da Delphi foram apenas lágrimas de crocodilo.
Não foi preciso esperar muito tempo para verificar quanto de hipócrita era a justificação apresentada.
Agora, com a venda do Hotel Turismo da Guarda, o executivo camarário prepara-se, cumulativamente, com o poder central, em dispensar 32 trabalhadores. Isto é, o próprio executivo vai lançar no desemprego trabalhadores de uma unidade hoteleira que, como já o dissemos e reafirmamo-lo com toda a clareza, de extrema importância para o hipotético desenvolvimento de uma região. Falamos em hipotético porque se duvida da vontade política em desenvolver o quer que seja, muito menos o interior do país.
O caso de despedimento dos trabalhadores do Hotel Turismo é em tudo semelhante ao despedimento numa outra qualquer unidade empresarial. Com uma agravante, a câmara tem, se não o sabem deviam sabê-lo, uma função social a desempenhar. Só que esquecem-se, mais uma vez. A câmara não tem vocação para abrir empresas, mas tem, pelos vistos, apetência e vontade de destruir postos de trabalho.
Onde ficam as propagandeadas frases feitas da defesa dos postos de trabalho prometidas no órgão deliberativo do concelho que, segundo ainda consta, é por natureza a Assembleia Municipal?
Disseram-no peremptoriamente. Agora negam, como sempre, tudo o que foi dito.
Mas, se o caso do despedimento dos trabalhadores do Hotel Turismo traz à evidência que o que se diz ontem como verdadeiro, hoje já não o é, ficou-se igualmente a saber que os problemas com as estações elevatórias de Maçainhas continuam a prejudicar gravemente os habitantes daquela aldeia, contrariando o que o Ministro do Ambiente respondeu ao Bloco de Esquerda, pelos vistos, por informação dada pela própria câmara, que o problema estava solucionado.
Só que o problema aí está, para desconforto da população. Cheiros nauseabundos e pestilentos continuam a atormentar os cidadãos de Maçainhas. Afinal, ou as obras foram remendos e de nada serviram ou haverá alguém a pedir ao S. Pedro que venha rapidamente a chuva porque deste modo, o mau cheiro desaparecerá por milagre.
Só que não acreditamos em milagres, nem nós nem os habitantes de Maçainhas.
Finalmente, uma última mas não a melhor.
Soube-se que o partido socialista se prepara para expulsar, sem ter ouvido os lesados, cerca de 200 militantes.
Poderá parecer estranho que se fale no caso aqui e agora. Falamos, principalmente, por duas ordens de razões.
A primeira, simples e objectiva, nenhum partido pode estar a salvo de ser fiscalizado e criticado por um cidadão anónimo, que não faça militância partidária nesse mesmo partido. Se os partidos são subvencionados e, nalguns casos, com elevadas verbas pagas pelos impostos de todos nós, faz todo o sentido que se questione a falta de democracia interna e certas tomadas de posição relativamente à sua organização. Legítimo.
Segundo, e quiçá a mais importante, um vulgar cidadão olha para este caso da expulsão com a perplexidade de alguém que, legitimamente, pode questionar o que pode esperar de tais «santos» que, fazendo o que fazem aos seus próprios «camaradas», na sua própria paróquia, o que não se atreverão a fazer a um cidadão anónimo que procura democraticamente denunciar, contestar e protestar contra certas tomadas de posição assumidas pelos poderes instaurados?
A questão do medo que há uns tempos falávamos tem toda a razão de ser.
Não o medo físico, porque esse tem tratamento psiquiátrico. Mas, o medo da falta transparência e a forma abusiva como se cometem certas arbitrariedades, dignas de um ditador ou dos seus capangas e, em nome de um poder que se diz legitimado.
Preocupante.
Preocupante para alguns. Para outros que não se vendem, porque quem se vende são as putas, como dizia Jorge de Sena, para eles não haverá ditadores, capangas e eunucos que os calem. A liberdade, só a liberdade de pensar , de dizer e de fazer.
«É que uma coisa são as justificações e outra são as desculpas. Uma justificação constrói um sistema de argumentações mediante um processo que se pretende rigoroso. Eram desta ordem os raciocínios, grandiosos e por vezes também peregrinos, das ideologias do passado. Uma desculpa é uma coisa mais modesta, um artefacto caseiro da estratégia política no qual não há relações causais, deduções e silogismos, mas apenas manejos oportunistas da atenção que não exigem o esforço teórico das grandes justificações ideológicas.
Modernamente, o actual dirigente já não precisa de ler muito nem de pensar muito. Nem sequer tem de argumentar ou de ser convincente: basta-lhe manejar correctamente os dispositivos da atenção pública. É uma pessoa que não tem ideias para convencer, mas apenas processos de distrair.»
A Sociedade Invisível, Daniel Imerarity.
(Artigo publicado no jornal O Interior, em 09 de Setembro 2010)