terça-feira, abril 13, 2010

Um dia acontece

Todos sabemos que somos um País afortunado.
Face a tantas situações do acaso, felizmente, não há muitos acidentes a registar.
Mas, quando os há, alguém se lembra do improviso, da sorte madrasta, do azar.
Pois é, assim acontece porque nada foi previsto.
Por exemplo, em termos de instalações escolares, do 1.º ciclo temos os piores edifícios. São, na grande maioria, edifícios do início do século XX.
Do tempo de Salazar - ditas de centenário.
Nada, ou muito pouco foi mudado.
As velhas e depauperadas instalações, lá estão.
O interior, talvez pelo facto de se acreditar que as escolas irão desaparecer, por morte natural, nada se alterou.
Hoje falam em centros educativos. Ou seja em armazéns onde todas as crianças, das mais variadas e longíquas freguesias se juntam.
Juntam-se para se quebrarem as raízes com a família, os lugares  o tempo o modo.
Mas, as que ainda, teimosamente, existem em nada mudaram.
E, o que se arranjou, em muitos casos, foi feito de improviso, sem pareceres técnicos com uns quantos «engenhocas» a debitarem palavreado e obras de remendo.
São assim a maioria dos edifícios escolares.
Logradouro péssimo cheio de pedras, esburacado sem qualquer intervenção dos serviços camarários onde, as crianças brincam com pedras, joga-se à bola com a improvisação de uma baliza cujos limites são pedras.
Parque infantil não existe.
As casa de banhos são de péssima qualidade, deterioradas, nauseabundas próprias de um país da África. As fossas não existem em muitos casos e, nos que fingem existir não funcionam ou conspurcam terrenos à volta.
As canalizações deitam, quando deitam, água imprópria para consumo.
Rede pública de péssima qualidade.
As salas de aula com soalhos que rangem, que têm a cor das tábuas gastas, podres e esburacadas.
As paredes sujas sem qualquer limpeza.
Pintura já não se conhece a cor.  O fumo das «salamandras» tornou-as acastanhadas e, os tortulhos abundam.
O teto ameaça cair. Há muito que a cal vai salpicando as crianças. Numa das paredes um quadro. Umas vezes ainda preto, noutras já verde. O giz e a esponja lá estão a perpetuar o atraso civilizacional. As mesas esboroadas, riscadas e minúsculas. Formam um U de unidos no desejo de aprender mas untadas pelo cheiro da lenha.
Sentam-se em minúsculas cadeiras, partidas, sem cor, para português pequeno.
E, lá no alto um crucifixo. Acima de todos.
Assim se aprende neste País. Mesmo com mapas velhos rasgados e que dificilmente representam o que quer que seja, muito menos países. Nalgumas salas, o saudosismo, ainda lá está, através do Império colonial.
A Pátria, Deus e a autoridade.
Hoje a autoridade é o presidente da junta. Nalguns casos ainda a figura do antigo regime. Poderoso, altivo, senhorial e morgado.
Esquece-se do vidro partido por onde um pardalito se refugia, no inverno, do frio que faz lá fora.
Cá dentro não está melhor, mas sempre ajuda a quebrar o gelo.
«O rebentamento de uma salamandra de aquecimento na escola do 1.º ciclo de Carvalheira, localidade da freguesia de Santana de Azinha, Guarda, causou hoje sete feridos ligeiros - seis crianças e uma professora».
A notícia passou.
«Tivemos sorte», dizia um dos habitantes.
«A salamandra foi substituída por outra que veio de outra escola», dizia outra habitante.
Pois, sorte é o que todos temos num país do acaso.
Só isso.
O resto pouco importa!!!
Que valem os «magalhães» quando  tudo falta?
Principalmente, saber-se que nas escolas há crianças e funcionários.